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Escala entre Não-actuação e Actuação

Parte 1: Considerações sobre a Abordagem Metodológica a Adoptar 4.1 Natureza Dinâmica e Complexa do Estudo

4.2 A Investigação Qualitativa

A investigação qualitativa estabelece procedimentos metodológicos que são essencialmente idênticos, independentemente do modelo que a investigadora venha a adoptar. As diferentes etapas dividem-se na apresentação de uma proposta de pesquisa, enunciação da questão ou problema, definição da população a investigar, desenvolvimento de uma calendarização, recolha e análise de dados e escrita de apresentação de conclusões (Bogdan, 1994). No entanto, na senda do pós-positivismo e pós-estruturalismo, é problematizada a definição e o território da investigação qualitativa e os respectivos métodos de investigação. De entre as várias alternativas de estratégias de investigação a serem desenvolvidas (estudo de caso, etnografia, fenomenologia, “grounded theory”, biográfica, histórica, participatória e clínica), Denzin e Lincoln (2005) concluem que: a) a investigação qualitativa nos dias de hoje deve focar a pesquisa para lá da nação, ou do grupo local; não é garantido que se possa estudar tudo e todos, já que os sujeitos investigados desafiam a forma como foram representados; o etnógrafo trabalha dentro de uma realidade “híbrida”, sem uma identidade sólida, onde as percepções pessoais colidem com acepções culturais mais alargadas de raça, nacionalidade, género, entre outras; sendo um projecto de investigação que contém também um sentido moral, alegórico e terapêutico, mais do que registar a experiência humana tem a função de contributo para com a humanidade; apesar de se constituir por rupturas, tem como centro o estudo do mundo social pelo prisma da interacção individual, num compromisso humanístico; para além destas, ficam outras questões por levantar e que é esse o trabalho do etnógrafo na investigação qualitativa, orientado pelo anteriormente exposto. A abordagem etnográfica tem como base as metodologias da Etnografia da Performance (“Performance Ethnography”) (Conquergood, 2002; Madison, 2005; Willis, 2000; Tedlock, 2005; Richardson e St. Pierre 2005; Alexander, 2005; Denzin, 2006) e da Investigação-Acção Participatória (“Participatory Action Research”), (Kemmis e McTaggart, 2005).

4.2.1 Validação Científica

A validação científica tradicional é realizada através da triangulação entre as diferentes fontes que constituem o instrumento de observação e dos critérios de pesquisa que presidem a cada uma das etapas. No entanto, integra-se igualmente o conceito de “cristal”, de Richardson e St. Pierre (2005), de forma a expandir as “paisagens de conhecimento” e a

amplitude da abordagem: defendem que o termo “triangulação” sugere a existência de um “ponto fixo” a partir do qual se constrói e se validam as conclusões, quando em contextos criativos existem muito mais do que “três lados” a partir dos quais se gera reflexão; como tal, propõe que, em vez da imagem do “triângulo”, se utilize a imagem do “cristal”: “Cristais são prismas que reflectem exteriores e se auto-refractem, criando diferentes cores, padrões e combinações que se espalham em diferentes direcções. O que vemos depende do nosso ângulo de repouso – não uma triangulação, mas antes uma cristalização.” (Richardson e St. Pierre, 2005: 963). Na angariação de dados, dirige-se atenção particular ao conceito de recolha de materiais empíricos, que envolve entrevistas, observação directa, análise de artefactos, documentos, ou registos culturais, utilização de materiais visuais e o uso da experiência pessoal; a análise das entrevistas e de textos culturais pode ser realizada de diferentes formas, como seja em termos de conteúdo, de narrativa, ou através de outras estratégias semióticas. O tratamento, análise e interpretação de toda a informação recolhida podem ser coadjuvados pela utilização de programas de computador de análise qualitativa cruzados com outros métodos de gestão de dados124 (Ibid.).

4.2.2 Investigação-Acção Participatória

A Investigação-Acção Participatória privilegia a prática orientada para a colaboração em ciclos de acção. O processo de investigação implica uma espiral de ciclos auto- reflectivos, entre a planificação da mudança, a actuação e observação, a reflexão e o reiniciar do ciclo. Este processo permite uma reinterpretação de pontos de vista à luz do conhecimento trazido pela experiência, em termos práticos, teóricos e pedagógicos, à medida que a investigação progride. Caracteriza-se por ser uma investigação aberta, fluida e reactiva, que convida à auto-reflexão sistemática. Dado o seu carácter de constante adaptação às realidades e conhecimentos que emergem da experiência, não é valorizado o perseguir da sequência planificada da intervenção, mas antes a sua capacidade de adaptação e resposta às situações e novos dados.

De acordo com Kemmis e Mc McTaggart (2005) Os critérios de sucesso colocam-se na forma genuína como os participantes, durante a investigação, evoluíram nas suas práticas, a compreensão subjectiva e objectiva destas práticas e das situações em que as práticas se desenvolveram. Centram-se no “aqui e agora”, no estudo de acções concretas e na mudança

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de “práticas particulares, de pessoas particulares em locais particulares.” (Ibid.: 564). Quanto à “Participatory Action Research”, segundo Kemmis e McTaggart, o estudo detalhado da Investigação-Acção Participatória já foi realizado por especialistas em outras ocasiões (Kemmis e McTaggart, 2000; Anusur 1993; Greenwood e Levin, 1998; McNiff, 1988; Zuber-Skerritt, 1996).

Comenta ainda que alguns investigadores sugerem que uma das formas iniciais de “Investigação-Acção Participatória” no desenvolvimento de comunidades teve início com Moreno (Altrichter e Gstettner, 1997). Com raízes em Freire, ou Borda, no conceito de

praxis ou de reflexão em acção e no pensamento marxista, desenvolveu estratégias de

transformação das condições e percepções individuais e sociais com impacto directo na educação e literacia dos adultos no desenvolvimento comunitário, no activismo em direitos humanos e empowerment. Investe-se em corresponder às necessidades sociais, económicas e políticas de pessoas comuns.

A Investigação-Acção Participatória propõe-se “a) desenvolver argumentos teóricos para uma abordagem mais ‟accionista„ em investigação-acção. b) (responder à) necessidade dos investigadores em acção participatória fazerem ligações com movimentos sociais mais amplos.” (Kemmis e McTaggart 2005: 560). É uma investigação científica e reflexiva no sentido que lhe confere Dewey, através da ligação entre inteligência e acção: utilizando a acção inteligente de forma experimental e exploratória, cria oportunidades de aprendizagem assentes na experiência e na reflexão sobre o mundo; estas oportunidades tornam-se um suporte para que o indivíduo encontre o seu lugar na sociedade e possa agir na reconstrução da mesma.

Kemmis e Mc McTaggart identificam sete características principais da Investigação- Acção Participatória: é um processo social que age na relação entre o real e o social; é participatória e mobilizadora de conhecimento e auto-conhecimento; assenta na prática e na colaboração; é emancipatória; é crítica; procura a transformação tanto da teoria como da prática, para que esta ecoe através da conexão dialéctica que se estabelece entre o ultrapassar-se (“reaching out”) e o conectar-se mais profundamente consigo mesmo e as suas próprias convicções (“reaching in”).125

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Definição de Investigação Acção Participatória segundo Kemmis e McTaggart: “É um processo social (que) explora a relação entre os domínios do individual e do social. (...); É participatória (e) envolve as pessoas na análise do seu conhecimento (...) e das suas categorias interpretativas. (...) As pessoas só podem fazer Investigação-Acção "sobre" si mesmos, seja individualmente ou colectivamente. Não é uma investigação realizada “sobre” os outros. (...); É prática e colaborativa. (...) É um processo no qual as pessoas exploram as suas práticas de comunicação, produção, organização social e (...)pretendem trabalhar em conjunto na

Os autores dos princípios acima expostos reconhecem que exageraram nas suas assertações quanto à amplitude dos efeitos de uma tal investigação, tendo posteriormente revisto o papel e projecção do investigador/ facilitador junto do grupo, o contexto e impacto do empowerment e atribuído uma maior ênfase como suporte teórico a Habermas e às esferas públicas (Habermas, 1996).

Bogdan e Bilken (1994) apontam o facto de este tipo de condução da pesquisa encorajar uma atitude, um ponto de vista e envolvimento por parte do investigador e simultaneamente dar oportunidade a que pessoas fora do mundo académico sejam igualmente “autoras” da investigação. Em conjunto, investigam o objectivo particular da intervenção, sendo esse objectivo um desafio de oposição a um factor de status quo. Enquadrando-se na investigação qualitativa, a pesquisa é validada através de entrevistas, documentos e observação e pelo facto de conferir a mesma relevância enquanto peso de critério de observação, a todos os dados que recolhe in loco.

A observação da própria participação é conhecida como auto-etnografia126. A auto- etnografia disponibiliza uma combinação entre informação cognitiva e emocional que o investigador etnógrafo pode utilizar a fim de integrar a performance que resulta da investigação, ou qualquer outro formato que seja o testemunho do percurso desenvolvido entre ele e os participantes e das preocupações morais e humanistas em acção.127 Este tipo de projectos em Ciências Sociais estão preocupados em promover as comunidades onde se desenrolam, mais do que em favorecer grupos organizados exteriores a essa comunidade, como sejam as comunidades de educadores, políticos ou financiadores.

reconstrução das interacções sociais através da reconstrução dos actos que as constituem (...); É emancipatória (... ) é um processo no qual as pessoas exploram as maneiras pelas quais as suas práticas são moldadas e

limitadas por estruturas sociais mais amplas (cultural, económica e politicamente) (...); É crítica, (...) visa ajudar as pessoas a recuperarem e a libertarem-se dos constrangimentos entranhados nos “mediadores” sociais através dos quais interagem. (...); É reflexiva (recursiva, dialéctica) (...) visa ajudar as pessoas a investigar a realidade, a fim de mudá-la (...); A Investigação Acção Participatória tem como objectivo transformar tanto a teoria como a prática. (...) visa articular e desenvolver uma em relação à outra através do raciocínio crítico sobre a teoria e a prática e as suas consequências. (...) Implica "extravasar" as especificidades de situações particulares, (...) para explorar o potencial de diferentes perspectivas, teorias e discursos. (...) Da mesma forma que implica "aproximar-se” dos pontos de vista providenciados pelas diferentes perspectivas (...) Deste modo (...) visa ligar o local e o global e de viver o slogan que o pessoal é político.” (Kemmis e McTaggart 2005: 566/ 568).

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A auto-etnografia pretende diminuir a clivagem entre o público (monografia) e o privado (memórias), entre o olhar para o interior e o olhar para o exterior: “Autoetnografia é no seu melhor uma performance cultural que transcende a auto-referenciação ao articulá-la com formas culturais que estão directamente envolvidas na criação da cultura. (…) Enfatiza padrões relacionais mais do que autónomos, interconexão mais do que independência, translucência mais do que transparência, e diálogo e performance mais do que monólogo e leitura.” (Tedlock, 2005: 467).

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Tedlock (2005) sugere, para mais informação sobre auto-etnografia, a consulta de Strathern (1987), Friedman (1990) Clough (1997), Ellis e Bochner (1996, 2000).

4.2.3 Questões Sobre a Articulação entre Teoria e Prática

O texto que se segue esclareceu sobre a validação da articulação entre teoria e prática. É o resumo, parafraseado, daquele apresentado por Guba e Lincoln (2005) que sublinha a importância do prisma filosófico e problematizador na escolha de paradigma epistemológico. Algumas dessas questões prendem-se com os seguintes aspectos:

– Acomodação ou mistura de métodos: É possível misturar elementos de um paradigma noutro, de forma a que a maneira como nos envolvemos na pesquisa esteja a retirar o que de melhor cada um dos paradigmas contém (positivista e fenomenológico)? Sobretudo se existirem elementos axiomáticos que ambos partilhem?

– Acção: É apenas um domínio pertencente à intervenção na comunidade, ou também território de estratégia de investigação, do investigador e dos participantes na investigação? A sua interpretação é algo definitivo ou negociável?

– Controlo do Estudo: Quem inicia? Quem selecciona as questões como sendo as importantes? Quem determina o que são as revelações? Quem determina como proceder à recolha de dados? Quem determina como essas revelações serão tornadas públicas? Quem determina quais as representações que se farão dos participantes na investigação? Na pesquisa tradicional, estas questões não são respondidas através da reflexividade, da voz, ou da sua representação em “textos”, já que estes não são considerados rigorosos, objectivos, válidos. Nos novos paradigmas, a questão do “controlo” associada aos elementos atrás referidos é uma forma de gerar controvérsia e estimular valores como democracia, emancipação e empowerment, já que a investigação participatória da pesquisa efectuada na comunidade tem como objectivo que a acção proceda do controlo dos membros do contexto local onde essa pesquisa é desenvolvida, a questão ontológica está profundamente enraizada na epistemológica: atendendo a que o conhecimento do mundo social depende de mecanismos de produção de conhecimento (social, mental e linguístico) então o conhecimento não pode ser separado do conhecedor.

– Critérios de avaliação e sua sustentabilidade em conceitos de verdade e conhecimento: Enquanto o realismo é uma questão ontológica (por oposição ao interpretacionismo e à fenomenologia), o fundacionalismo é uma questão de critérios: os critérios fundacionalistas são descobertos – já que partem do pressuposto que os fenómenos reais implicam necessariamente determinados finais e ultimam critérios para serem testados como verdadeiros -, os critérios não fundacionalistas são negociados - já que argumentam que tal ultimação de critérios não é possível - e só podem existir quando há consenso quanto

à especificidade da sua emergência num determinado momento e em determinadas condições.

– Validade: Será que estas conclusões são suficientemente autênticas (isomórficas a respeito de alguma realidade, portadoras de verdade, relacionadas com a forma como outros constroem o seu mundo social) para que as possamos assumir como certas agindo nas suas implicações? No novo paradigma, não se trata apenas da utilização de um método que seja capaz de fornecer um conjunto de verdades fundamentadas em termos contextuais e locais (que pode ser encontrado em métodos etnográficos), mas do facto de a validade depender igualmente do processo de interpretação a que essa “realidade” foi sujeita, enquadrando e delimitando o estudo em função de um raciocínio defensável e plausível num consenso gerado também na comunidade, no “aqui e agora”.

– Interpretação: Somos “interpretativamente” rigorosos? Podem as nossas construções co-criadas merecer a confiança a fim de providenciarem algum desenvolvimento em algum fenómeno humano importante? Os fenómenos humanos são também objecto de controvérsia. Opondo-se ao conceito dos cientistas sociais clássicos, que entendem o fenómeno humano como limitado às experiências humanas sobre as quais é possível generalizar, os novos paradigmas centram-se na experiência única, na crise individual, na epifania, ou momento de descoberta, com o sentimento e a emoção (que são os que mais desafiam a objectividade tradicional). O que conta nos dados sociais é cada vez mais o experiencial, o corporizado (embodied), as qualidades emotivas da experiência humana, como contributo para a qualidade narrativa da vida. Contando com a auto-etnografia, de forma a capturar os elementos que fazem a vida conflitual, em movimento, em problemática. – Critérios de validação: As bases para a discriminação de critérios de um projecto de transformação surgem quando a pesquisa assume um carácter mais abrangente e se torna uma forma de praticar a filosofia, um questionar sobre o que queremos fazer no mundo e o que entendemos ser o conhecimento humano, as suas limitações e as suas funções. (Alguns critérios são 1) que o conhecimento gerado sirva como complemento ou suplemento; 2) que o conhecimento gerado sirva para desenvolver e cultivar inteligência crítica; 3) que o conhecimento permita o treino e a calibração do julgamento humano, ou da capacidade da sabedoria prática). Como saber se a pesquisa é suficientemente leal a alguma construção humana de forma a que possa agir sobre os membros da comunidade na qual foi conduzida? Existem discussões sobre o que se poderá usar a fim de fazer julgamentos profissionais e de postura em diferentes tipos de trabalho e de validar esses julgamentos: 1) Validade como

autenticidade – critérios de autenticidade (justiça e equilíbrio na forma como as perspectivas, reivindicações, preocupações e vozes são aparentes no texto; autenticidade ontológica e educativa relacionada com o nível de consciência gerada nos indivíduos que integraram a pesquisa e naqueles que constituem o seu meio envolvente; autenticidades catalíticas e tácticas, que se referem à habilidade de desenvolver a acção junto dos participantes e do envolvimento do investigador em treiná-los em formas específicas de acção política e social, que estes achem pertinentes; 2) validade como resistência e transgressão: problematizar o fidedigno, validade e verdade, a fim de criar novas relações (com os participantes, com o trabalho, com os outros, com o próprio), através da metáfora do cristal (perspectivas em caleidoscópio); 3) outras validades transgressoras (simulacro/ ironia, paralogia/ neopragmatismo de Lyotard, rigor/ rizomatico de Derrida, voluptuosidade/ situada); 4) validade como relação/ afinidade ética.

– Voz, em investigação participatória, está actualmente conotada não apenas com a ideia do verdadeiro investigador e a sua voz, mas também com a ideia de deixar que os participantes falem por eles mesmos, seja no formato de texto, peças, ou outros mediadores de orientação performativa e formas de comunicação designadas por eles. Richardson e St. Pierre (2005) apontam alguns exercícios para que o investigador assuma diferentes perspectivas e narrativas de forma a contrariar a tendência da voz distante e abstracta do “eu” desconectado (ex.: criação de textos em forma de poesia, peça dramática, entre outros).

– Reflexividade: exige que nos interroguemos sobre o modo como os esforços da investigação são enformados e se apresentam em binários, contradições e paradoxos que formam as nossas próprias vidas. Questionarmo-nos ainda sobre o modo como esses binários informam e enformam as identidades no terreno e nos processos de revelação e descoberta na escrita, mas também nas interacções com os participantes. A investigação qualitativa é mais que o duplo processo de “writing up” (notas de campo) e “writing down” (narrativa). Essa é uma visão demasiado simplista, já que são criados inúmeros textos no processo de trabalho de campo: escrever não é uma simples transcrição da realidade, mas também um processo de revelação do assunto (e, às vezes, do próprio problema) e descoberta do self.

– Representações Textuais pós-modernas128: com a criação de textos que quebram

fronteiras, que se movimentam do centro para as margens a fim de comentar ou descentrar o

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No conceito pós-moderno “representação, ,pode ser uma imagem – visual, verbal ou aural, (…) pode ser uma narrativa, uma sequência de imagens e ideias… Ou, a representação pode ser o produto de uma ideologia, esse vasto esquema para mostrar o mundo que está para vir e para justificar as suas negociações.” (Stimpson, 1988: 223 in Guba e Lincoln, 2005: 211).

centro e transgridem os limites das ciências sociais convencionais na procura de uma ciência social sobre a vida humana e não sobre assuntos/ temas. As representações pós-modernas tendem a experimentar narrativas que expandam a escala de conhecimento, voz e variações armazenadas na experiência humana. Os investigadores tornam-se contadores de histórias, poetas e dramaturgos; debruçam-se sobre o que constitui a legitimação da pesquisa numa estrutura narrativa, dramática ou retórica. Procuram as audiências. Não há uma verdade única, todas as verdades são parciais. Explorar os meios pelos quais as variáveis estão ligadas ou desligadas de outras variáveis, como forma de perceber onde os nossos interesses se cruzam e onde podemos promover o “ser” e o “ser” dos outros, como um todo de seres humanos.

Hughes (2006) elabora igualmente um conjunto de questões sobre o rigor da investigação.

4.2.4 Novos Prismas da Antropologia

Na Antropologia, o investigador no terreno, ou etnógrafo deixa de encarar a cultura como um todo coerente e integrado e assume a perspectiva como um texto sujeito à interpretação e à crítica, fazendo emergir um modelo que assenta no diálogo, na polifonia e em redes intersubjectivas.

Dada a natureza do objecto de estudo, torna-se redutor suportá-lo em “categorias naturais” que caracterizam a abordagem positivista ou das ciências exactas. Apesar da sequência matriz de observação, descrição e interpretação, todas as etapas estão fortemente influenciadas por convenções, ideias e vivências. A este propósito, e mais uma vez no campo da etnografia, Marcus afirma que:

“O assunto já está delimitado (…) Se ainda existe algo a descobrir através da etnografia são as relações, conexões e sem dúvida culturas de conexão, associação, circulação, que estão inteiramente ausentes pelo uso e nomeação do objecto de estudo, em termos de categorias “naturais”, para assuntos com discursos pré- existentes sobre elas. (...) A justaposição entre sites embebidos em estratégias de multi-sites, de seguimento de pistas e de realização de conexões, tende a desequilibrar categorias naturalizantes e a sua limitação do mundo ao senso-comum.” (Marcus, 1997: 60)

As categorias devem surgir das virtualidades da interpretação, já apontadas por Casal (1997), que surge da fusão de três ópticas: a da história individual, a da história social e a do intérprete, sendo que esta última deve ser identificada pelo intérprete.

Os Estudos Culturais, através do contributo de vários antropólogos, como Malinowsky, Bateson, Geertz, Marcus, Singer, Burke, ou Turner, optam por novas variáveis de validação de conhecimento na investigação e na observação do trabalho de campo129, que influenciam os princípios estruturantes dos Estudos da Performance e da Etnografia da

Performance com uma forte presença da teoria marxista e da subjectividade, polifonia, inter-

acção, dialógico, entre outros elementos. Na perspectiva pós-moderna, a diversidade torna-se um valor objectivo a par da impossibilidade de uma explicação total dessa diversidade.

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Subjectividade e afinidade surgem do percurso vivencial do observador e das suas preferências individuais, estabelecendo prioridades de observação e enfoques em áreas que são para si significativas, pertencentes à área dos seus interesses pessoais (área afectiva); mas surgem igualmente da carga/ / perspectiva com que interpreta

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