• Nenhum resultado encontrado

2ª Parte – Resultados

5.8 Resultados dos Testemunhos dos Participantes

Esta recolha de testemunhos teve lugar dois meses depois da apresentação, ou seja, em Junho de 2009 e teve uma duração entre 10 a 15 minutos cada, com excepção da recolha realizada ao professor, que ultrapassou os 30 minutos.

5.8.1 Factores Éticos e Políticos

“Era uma história que já toda a gente conhecia mas contada de uma maneira que ninguém conhecia (…) aquela maneira política de falar como nós fizemos. E para mim a mensagem que transmitia principalmente era que as coisas têm várias maneiras de dizer e pode-se pensar as maneiras de falar sobre os assuntos e várias maneiras de interpretar os assuntos através da maneira de falar.” (Xana 14)

Ocorrência de Significado Ético e Político

O que alguns performers quiseram transmitir foi a alegria que sentiam e não uma mensagem particular. (Sara 36, Xana 14, Mea 17)

Estiveram presentes os pormenores que consideram especiais e importantes, como seja a possibilidade de uma maior participação, de uma maior entrega, de acção e de emissão de opiniões. (Xana 13, Sou 33, Vera 23)

Foi inovadora a forma como abordou e incluiu questões políticas; como desconstruiu o conto original (Xana 14); numa direcção que alertava para a deturpação do sentido de cidadania (Sim 26, Sara 35); como se falou em termos políticos de um século mais avançado com uma história de antigamente (Sim 26); como possibilitou a constatação do quanto os preconceitos actuais já são antigos. (Cató 41)

Emergência de Novas Perspectivas e Inversão de Clichés

Consideram que trouxe uma nova perspectiva sobre o que é teatro (Sim 26, Cató 41), a sua construção e realização (Cató 41 e Lola 21) e uma maior sensibilidade ao universo performativo. (Cató 42, Vera 25)

Foi positiva a abordagem criativa favorecer a desmistificação da imagem estereotipada das pessoas portadoras de deficiência. (Sara 34) Ou ainda, que o assunto escolhido estivesse relacionado com os jovens. (Linda 28)

Foi igualmente inesperado o falar do mesmo ou vários assuntos sob várias perspectivas e provocar leituras diferentes (Xana 14); ou ainda, aperceber-se do quanto uma simples peça pode transmitir grandes mensagens e pôr a pensar de maneiras diferentes. (SIM 26)

“Aqui no Concelho de Odemira, se o teatro fosse mais forte, mais presente, acho que tanto eu como muita gente interessava-se mais. Porque muita gente não sabe o que é o teatro, não percebe nada daquilo; como nunca estiveram presentes naquilo não sabem o que é ‟mesmo„; e acho que isso é uma pena porque, num Concelho como o de Odemira, acho que isso devia estar mais vivo.” (Sim 28)

Gérmen de Sustentabilidade?

Segundo um dos elementos, só depois da experiência e de se descortinarem os seus importantes resultados é que esta se torna significativa e só nesse momento as pessoas dão o devido valor a todo o processo. Antes disso, a presença e percepção das sessões tinha tendência para ser vaga, sem rumo, quase como algo supérfluo. (Zé 4)

Declararam que ficaram com vontade de participar em criações deste género (Xana 15, Zé 4, Cató 42, Sim 28), ou repetir a experiência (Isa 19, Ninhas 40, Sara 36, Lola 22, Vera 24, Sim 26), ou pertencerem a um grupo de teatro (Isa 20), ou ainda, participar mas sem se expor. (Linda 31)

Consideram que a vontade de participação em futuros projectos advém em boa parte da mais-valia gerada pela experiência (Cató 42), ou ainda, porque estas iniciativas são importantes, úteis e fazem bem. (Zé 4)

Acham que este tipo de experiências, com uma visão mais abrangente de teatro, devia ser alargado a todo o Concelho para que outros jovens pudessem usufruir dos seus benefícios (Sim 28), ou ser desenvolvido em horário extra-curricular. (Linda 31)

5.8.2 O Grupo

“(No meu papel senti-me sempre eu ali) porque de certa forma em todos os papéis

tinha de “parvejar” um bocado, entre aspas, e isso é como eu sou no dia-a-dia um bocadinho, pronto, assim, alarve para a brincadeira. (…) Fez-me sentir realmente como eu sou e, pronto, libertou o que há dentro de mim na realidade.” (Cató 41)

Reconstrução de Papéis na Comunidade Escolar – em Marcha?

A totalidade do grupo realçou que o mais marcante foi a apresentação da

performance e a reacção do público e que foi muito compensador o reconhecimento do seu

valor enquanto performers por parte da comunidade escolar. (Zé 3, Mea 16)

Também notaram um contributo para uma maior desinibição e diminuição da timidez em geral (Ninhas 38, Vera 23) e especificamente ao falarem diante de uma audiência (Mea 16, Isa 19, Zé 4), ao intervirem com mais frequência numa conversa, interagirem com pessoas que não conhecem tão bem (Zé 1), ou diante de uma câmara. (Ninhas 37, Linda)

Apontam que a experiência teve reflexos na qualidade de apresentação de trabalhos escolares diante dos colegas, através de uma maior capacidade de comunicação, criatividade e originalidade (Mea 16), à vontade em canalizar a atenção para um determinado pormenor. (Zé 3, Mea 18)

Recriação de Papéis no Grupo

Houve uma maior atenção para com os outros elementos, para a emergência e progressão de capacidades criativas e performativas até aí ignoradas (Sim 26, Mea 16) e em qualidades como perseverança, à vontade e presença.

Também destacaram o quanto é gratificante o reconhecimento por parte dos outros dos seus potenciais latentes (Cató 41, Sara 35), ou a aquisição da consciência de que o seu potencial criativo ultrapassa aquele que foi manifestado. (Linda 31, Sara 35)

Alguns factores que favoreceram esta mudança são o estarem mais tempo juntos, a troca de impressões (Mea 17) e o terem um objectivo comum com uma realização concreta e visível. (Mea 17, Lola 21, Zé )

Inclusão – em Marcha?

Em relação a um dos elementos, claramente afastado pela grande parte do grupo, dois realçaram que a generalidade do grupo já anteriormente era sensível e compreensivo para com esse elemento (Ninhas 39, Zé 4) e que não sabiam exactamente como interpretar e lidar com as reacções imprevisíveis desse elemento. Dois focaram que despontou uma maior inclusão (Sim 28, Linda 31). Para tal contribuiu a apreciação da sua força de vontade, perseverança, gosto pelo teatro, boa disposição, vontade de participar e qualidades performativas que tiveram ocasião de se manifestar neste espaço (Ninhas 39, Sim 28, Linda

30, Zé 24). Uma das (poucas) participantes que já apoiava o elemento em causa, e que se chocava com a atitude de distanciamento do grupo, acha que não houve nenhuma alteração (Vera 24). O próprio elemento em causa é bastante positivo quanto à constatação de mudança e aproximação. (Vera 33)

“Nós já estamos juntos há três anos, mas com este projecto o grupo do teatro ficou mais unido, ajudarmo-nos mais uns aos outros, mais sentido de cooperação entre a gente. (…) (algumas das pessoas do grupo) não gostam muito de falar e com este projecto podíamos brincar mais com elas; e (agora) falam mais connosco e assim, e não ficam tão de parte do grupo.”(Isa)

Emergência do Coro

Alguns elementos acham que todo o processo e performance tiveram uma influência superficial e não profunda na mudança nas relações do grupo (Xana 15, Linda 30) e que essa só perdurou no laboratório. (Xana, Linda 30)

Outros referem que surgiu entre todos uma maior aproximação, um reforço dos laços e afinidades (Zé 4) e a intensificação do sentimento de união, ajuda e cooperação, eventualmente já existentes no grupo (Isa 20, Cató 42, Sim 27, Sara 33, Vera 24, Mea 17, Lola 22), bem como a acentuação da carga lúdica, da comunicação e da descontracção (Isa 20, Sim 26). Isto foi notório pela diluição da demarcação de subgrupos no grande grupo (Ninhas 39). Estes sentimentos e encontro perduraram para lá da intervenção. (Isa 20, Sim 28, Sara 33, Vera 24, Zé 4, Cató 42, Mea 17)

5.8.3 O LABORATÓRIO, a Dramaturgia da Comunidade e a Performance

“Depois no final sente-se um alívio que não se consegue explicar por muito que nós digamos, ponhamos adjectivos, só mesmo estando lá é que se percebe a quantidade de alegria que nós sentimos ao fazer.” (Linda 32)

Poder do Sensorial: Prazer, Frustração, Alegria, Esforço, Entusiasmo, Alívio

Foi encarado como positivo o nervosismo e excitação sentidos antes da entrada em cena e o início da performance (Xana 13, Sara 35, Lola 21, Mea 17). Também o enorme alívio no final e o aplauso e aprovação da audiência. (Xana 13)

Outras sensações agradáveis foram o ultrapassar gradual de medos (Cató 41, Sim 26), o sentimento de esforço misturado com o de alegria e orgulho do que se fez. (Ninhas 38, Sim 26, Linda 31, Lola 21)

Realçaram como fonte de entusiasmo a surpresa com algumas das características positivas do processo de que não estavam minimamente à espera (por unanimidade à excepção de um elemento). Algumas das sensações daí resultantes foram prazer, animação, descontracção, boa disposição, por vezes de calma, paciência, dedicação e esforço, e ainda outras vezes de frustração ao não se atingir o desempenho desejado, insegurança, medo ou vergonha. (Xana 14, Sara 33, Linda 29, Zé 2)

O Processo: Expectativas e Receios

“Não estava à espera que fosse assim, pensei que ia ficar muito inibida, principalmente nas apresentações porque sou muito nervosa, tenho muitas dificuldades em falar para o público e isso surpreendeu-me também um bocadinho, conseguir estar em frente ao público, falar e representar.” (Vera 23)

Para alguns, foi uma oportunidade de se aproximarem daquilo que gostavam de fazer, seja porque no caso de um dos elementos já havia tido uma experiência dramática semelhante, seja porque representar era um desejo antigo que nunca se pudera concretizar (Xana 13, Isa 19). Para a grande maioria, foi a primeira vez que tiveram contacto com este tipo de abordagens teatrais (Sara 33, Linda 29, Lola 21, Mea 26), que vieram a revelar-se uma experiência muito gratificante. (Unanimidade)

O espaço aproximava-os mais da ideia que tinham de teatro. (Xana 13, Sou 33, Vera 23)

O processo acabou por superar o que estavam à espera (Linda 30). A performance correu bem (Vera 23) e até melhor do que julgavam, já que não houve enganos nem atrapalhações de maior (Ninhas 43, Linda 30). Tanto o laboratório como a apresentação foram uma descoberta inesperada. (Mea 16)

No entanto, as dinâmicas não foram logo ao encontro das expectativas (Isa 19): no início imperou a sensação de timidez, ou de estarem perdidos por não captarem o sentido dos jogos, ou ainda pela antecipação do medo na confrontação com o público. (Isa 19, Ninhas 37, Zé 4)

Adequação de Tácticas Teatrais e Comunicacionais ao Grupo

Outras qualidades valorizadas na criação do universo não-quotidiano foram a possibilidade de criação e jogo de papéis (Isa 19), o lúdico na criação (Cató 41). Apesar de o texto ser um guião a cumprir, não sentiram que este obstruía a criatividade; a criatividade mobilizou-se sobretudo na exploração de posturas físicas e da voz (Zé 1). Apontaram um sentimento de satisfação com a composição das suas criações e da performance. (Zé 2, Sara 33)

5.8.4 O Laboratório, a DRAMATURGIA da COMUNIDADE e a

Performance

“(O personagem que preferi fazer foi aquele em que) Falei para o meu eco (em que a pessoa que contracenava fazia de eco das minhas palavras). Participei mais e inventei

coisas à última hora. (…) Quis introduzir a cadeira (de rodas em cena) para acabar com o mito estúpido e imbecil de que, se uma pessoa normal se senta numa cadeira de rodas, é deficiente.” (Sara 34)

Espaço Teatral Extra-Quotidiano

Uma das qualidades deste espaço era o sentimento de segurança transmitido sobretudo aos elementos mais tímidos nos momentos em que se assumiam enquanto personagens (Ninhas 37), a expressão, afirmação e consciencialização de vertentes pessoais ao abordar o personagem como uma extensão de si (Cató 41), o processo inesperado de criação de personagens. (Sim 26, Zé 2)

Apontaram que o laboratório permitiu uma maior participação na criação e uma maior utilização da imaginação e o emergir de memórias felizes do seu passado (Sara 34,35). Ainda o laboratório como contendo um processo gradual, por pequenas etapas de desinibição, que culminou na performance. (Lola 21, Vera 23)

Estimulou a adesão, o facto de não haver muito texto para decorar (Linda 29), e ter havido ocasião para uma maior concentração ao trabalhar em subgrupos (Mea 16). O processo de construção tornou-se mais interessante pela sua abordagem original (não tradicional), não aborrecida. (Mea 16)

Acharam igualmente interessante o espírito de grupo criado nas sessões e que as descobertas de todos fossem em simultâneo (Sim 26). Focaram como sendo importante o

encontro de estratégias dramatúrgicas alternativas capazes de integrar um dos elementos e as suas limitações sem pôr em causa o todo (Zé 4). A própria considerou isso extraordinário. (Sara 35)

5.8.5 O Laboratório, a Dramaturgia da Comunidade e a PERFORMANCE

“Gostei muito, acho que um dia mais tarde me vou lembrar disto e acho que vou querer voltar atrás e repetir de novo.” (Ninhas 39)

Performers na Realização da Performance

Foi significativo terem alcançado a realização de um produto final em conjunto (Lola 21), o todo performativo com os elementos de cena (luzes, maquilhagem) e a existência de público. (Vera 23)

Aliás, o que atraiu uma boa parte dos elementos (para participarem no projecto) foi a possibilidade de expressão, o experimentar o processo de criação, o poderem ser performers e sentirem as sensações provocadas por esses momentos. (Xana 14, Mea 17)

Foi um espaço que trouxe satisfação pelo atingir de metas pessoais, pelo percurso de apropriação do personagem, pelo bom desempenho em cena – de onde o principal receio era a falha de memória – e pelo facto de ultrapassar com desembaraço os pequenos acidentes de palco. (Zé 2)

Audiência, Comunicação e Face-a-Face

“Vieram ter com a gente e dizer que tinham gostado muito e por exemplo no meu caso, tipo, um colega meu a dizer que do meu papel tinha gostado muito.”Mea

Foi com surpresa que descobriram que eram capazes de se expor e representar diante de um público (Sim 26, Lola 21, Vera 23) e mais concretamente conseguir olhar para o outro – e suster o seu e o olhar do outro – sem vergonha. (Sim 27)

São de opinião de que o público gostou (Xana 14, Vera 23), que valorizaram as afinidades existentes (Isa 20, Linda 31, Mea 16) e que ficaram surpreendidos positivamente tanto com a performance como com a prestação dos performers. (Vera 23)

Não estavam a par dos significados que o público retirou da performance, mas captou tratar-se da questão da cidadania (Isa 20, Ninhas 37, Lola 22, Mea 16). Outros acham que a assistência não estabeleceu qualquer relação com o tema da cidadania. (Lola 22, Mea 17)

Referiram que alguns espectadores ficaram com “inveja” de não terem participado, sobretudo no que se referia ao espírito de grupo, ao convívio e ao entretenimento. (Ninhas 38)

5.8.6 Palavras-chave que Identificam o Projecto

“Foste muito boa orientadora, percebeste os meus olhares e gostei.” (Sara 36)

Divertido, alegre, original, muito trabalho, vergonha, iniciativa, vontade, querer, descobrir, aproximar-se do que se gosta, união, criatividade, originalidade, público, apresentação, inesquecível, vontade de repetir, fantástico, bonito, brutal, representar em palco, concentração, improvisação, nervosismo, ansiedade, diversão, experiência totalmente nova, uma coisa muito forte, marcante, positivo.

5.8.7 Fragilidades

“ (Nestas) iniciativas quem lá está sabe que é muito importante; e quem não está e passa a estar e depois quando sai e vê os resultados ainda dá mais valor; e é isso que quem não está dentro como nós inicialmente – estávamos todos um bocado à toa e (pensávamos) o que é que isto dá e o que é que não é e o que ganhamos com isto – e depois vermos e ao longo do tempo, observar os resultados, acho que é de extrema importância e só faz bem.”

(Zé 4)

Como pontos fracos, identificaram o pouco tempo disponibilizado (Linda 29, Zé 3) e que assim não houve oportunidade para dar o “salto” que esteve quase a acontecer (Xana 13). Que teria sido necessário dar mais “tempo ao tempo”, para que todos se apercebessem de uma lógica diferente, já que para muitos era a primeira vez que contactavam com aquele tipo de experiências. (Zé 3)

Algo que dificultou foi o retrocesso sentido no processo após uma ausência (Linda 29). Referiram alguma pressão exercida para trabalharem com elementos que não constituíam o seu sub-grupo. (Linda 29)

Também o facto de que o grupo nem sempre se entregava como devia às sessões, nem preparava com antecedência necessária aquilo a que se tinha comprometido (Zé 2, Xana 13) e alguma falta de colaboração por vergonha, ou por esquecimento que interferiam no bom andamento. (Vera 23)

Realçaram ter havido uma exploração parcial do potencial do projecto, porque só tardiamente se aperceberam do grau de mobilização necessária e daí que, por vezes, a despreocupação se sobrepôs ao enfoque na tarefa. (Zé 3)

Outline

Documentos relacionados