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2ª Parte – Resultados

6.2 Princípios e Conceitos Teórico-Práticos Identificadores de Teatro Social

6.2.2 Relação com os Contextos

Contexto Comunitário e Públicos-alvo

Já foi apontado na revisão de literatura que TeS intervém em contextos comunitários específicos, mas também em comunidades territoriais, como sejam as rurais ou as urbanas, que apresentem situações de carência cultural, financeira ou estrutural e que necessitam de um espaço e tempo para se reformularem como grupo social com culturas, discursos, sensibilidades e identidades próprios.

Thompson e Plastow (ENTR), sem pretenderem estabelecer uma escala de juízo de valores acerca de sobre a quem TeS deve ser dirigido, explicam que são bem-vindos todos aqueles que demonstrem vontade e curiosidade em o praticar, dentro dos moldes que o consolidam. Quem, em primeira instância deveria decidir sobre a pertinência da sua execução seria o grupo de participantes directos e não as organizações que o promovem ou as instituições que o acolhem. Aliás, Schininà (ENTR), afirma que, se o grupo de pessoas não visse qualquer utilidade em semelhante intervenção, esta não deveria acontecer, já que seria algo imposto pelo exterior. Schechner e Thompson apontam que, se do ponto de vista teórico o não privilegiar um determinado contexto em detrimento de outro é uma postura correcta, já que todos os contextos estão prenhes de performances (Schechner e Thompson, 2004), o mesmo não se pode afirmar quando o operador se confronta com a realidade da prática no terreno: esta determina uma reflexão a partir da qual inevitavelmente surge uma escala de valores sobre em qual dos contextos é mais pertinente intervir.

Foi profícuo à intervenção “Caleidoscópio”, no Concelho de Odemira, uma das especialistas entrevistadas (ENTR) estar inserida e desenvolver a sua acção num meio rural. Apontou como principais características diferenciadoras entre estes contextos e os restantes o seguinte: a censura e a auto-censura; o forte controlo social; a anomia – quando já não existem particularidades culturais e oposto de identidade; a clivagem entre uma determinada linguagem artística e os seus receptores; a fraca densidade populacional que tem como

consequência positiva uma proximidade mais forte, e como consequência negativa uma menor diversidade de grupos de pertença espontâneos – que se torna outro obstáculo à afirmação pessoal; uma maior exposição do indivíduo aos preconceitos e à construção de um mito pejorativo; uma fraca diversidade de modos alternativos de vida. Considerou que, na generalidade, são populações menos cultivadas, não porque tenham menos capacidades intelectuais que nos meios urbanos, mas precisamente pela marginalização a que são devotadas pelo sistema, quando este é deficitário na distribuição cultural e quando sacrifica a cultura local a favor da generalização. Realçou ainda que, quanto mais intenso é o reconhecimento da imagem da forma da comunalidade, da “maneira de estar” de uma região e dos seus componentes, mais clara é a referência em relação à qual se constroem as opções de identificação ou de recusa e maior a capacidade de confirmação ou de mudança. Essa capacidade tem consequências na criação de subgrupos com carácter identitário a serem incluídos pela comunidade na sua diferença: quanto menos se domina o potencial do que se pode ser num determinado ambiente, maior a sujeição ao que pode vir a acontecer (ENTR). Os restantes entrevistados indicaram a predominância de algumas destas características nos ambientes não-urbanos.

Contexto Grupal: o Coro

O painel considera que a criação do grupo é sinónimo da criação de um coro com diferentes tons de voz, o coro polifónico, de identidades e diferenças. O coro é treinado mas não dirigido; não persiste a ideia de “criar voz” já que cada um já possui a sua própria voz e é da sua polifonia que se constitui o coro (ENTR).

Referem ainda que se assiste à emergência do coro, nomeadamente desde o momento em que os indivíduos do grupo deixam de ser recipientes para passarem a ser proponentes de novas actividades (ENTR). Outro elemento apontou que um dos factores que preside à

performance é um “vibrato” que resulta da presença do grupo em palco e que é sinónimo de

“energia”. Essa energia presente no jogo, na dramaturgia e na performance emerge de cada uma das pessoas que constituem o coro (ENTR)171.

Alguns dos membros do painel chamaram a atenção para a delimitação do território do grupo e do operador, sem que subsista sobreposição entre ambos. Esta delineação tem por objectivo que o coro se constitua enquanto figura identitária independente da presença do operador e que o grupo controle os seus processos e se torne autor– performer (ENTR).

Consideram que o TeS é um teatro que, mais do que realizar-se numa produção, materializa- se a partir dos processos do sujeito e dos percursos do coro172 (ENTR).

Alguns dos indicadores do percurso do coro durante o projecto de intervenção “Caleidoscópio” foram: da não apresentação à apresentação mais frequente de propostas – nomeadamente soluções de encenação da operadora com alternativas da autoria dos participantes; da dispersão à convergência de esforços para um projecto comum (a

performance); do receio ao à vontade em grupo na resolução de imprevistos com origem

performativa ou de natureza institucional; da demarcação entre subgrupos à atenuação de fronteiras; encontro de afinidades e maior interacção e ajuda (CAL).

Contexto Cultural: Valorização do Paradigma Cultural

Em TeS, o que activa os mecanismos de acção são as realidades que caracterizam os contextos. Como já foi anteriormente referido, esta acção visa também potenciar o universo estético, criar espaços para o exercício da criatividade, da expressão e da comunicação.

No projecto de Teatro Social e atendendo à diversidade de territórios e contextos onde intervém, a adequação de práticas à especificidade das situações torna-se fundamental. Essas práticas são muito sensíveis ao “aqui e agora” ditado pelo contexto onde têm lugar e pelas características que identificam esse grupo ou comunidade. Segundo Thompson (Thompson, 2004) a intervenção pressupõe o conhecimento de convenções, intersubjectividades e comportamentos do grupo, bem como dos territórios e discursos institucionais onde a intervenção será realizada. Tal significa que o operador social entra num espaço pleno de referências sociais, performativas, ideológicas e psicológicas (Conquergood, 2002).

É necessário entender como opera a comunicação, que performances já existem e que repassam as acções de cada um dos seus membros, mas igualmente canalizam os seus sentimentos, emoções e percepção do mundo. Os discursos performativos locais ajudam a compreender como o processo cultural, histórica e socialmente enraizado, constrói os modos de conhecimento e determina comportamentos interpessoais específicos.

Um dos resultados na fase de diagnóstico da intervenção “Caleidoscópio” foi a constatação de que os próprios sujeitos não entendiam a perspectiva da “sua cultura”, já que,

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A sequência fixa, que caracteriza a operacionalização de projectos, tem antecedentes nas estruturas de Teatro Educação (Valente, Jackson, Robinson), na Animação Sociocultural (Caride, Ventosa, Bento), ou nas intervenções de carácter Psico-Social (Schininà, Jennings, Chabukswar).

por exemplo, diferenciavam a noção de “cultura” das suas opções culturais. Logo, não percepcionavam a cultura no sentido mais amplo e inclusivo das várias tendências173 (CAL). Seria esse sentido mais amplo que, por sua vez, remeteria para o sentimento de “identidade cultural”. Outro dado importante foi o aumento de envolvimento, resultante da integração no laboratório, dramaturgia e performance, de apontamentos com referência a factores culturais. Philip Taylor (2003) tenta responder à pergunta de como equipar o teatro em contextos não teatrais de forma a favorecer o fortalecimento das comunidades174. Thompson e Schininà (ENTR), com base na perspectiva dos Estudos da Performance, recentram esta questão afirmando que não se trata apenas de levar teatro onde pressupostamente este não exista,175 mas antes de relançar a Lógica do Teatro já existente nessas comunidades, de forma a que esta se torne significativa para todos os níveis de participantes envolvidos no espectáculo (performers, audiência e instituição). Fundamentam esta perspectiva afirmando que quase todos os contextos contêm démarches teatrais, cenários de performances múltiplas baseadas em manifestações culturais, em rituais ou em performances estéticas: “o acto de utilizar o teatro nestes contextos tem de ser compreendido como um processo de confluência e de competição de performances, e não para simplesmente trazer o teatro às pessoas e aos lugares que o não têm.” (Schechner e Thompson, 2004: 13). Thompson afirma ainda que, a fim de o operador não transportar para o terreno a carga da sua ideologia e herança cultural, a acção de TeS deve estar ancorada nas especificidades e idiossincrasias do contexto onde intervém, uma vez que esse contexto contém à partida uma carga problemática e desafiadora: “É uma forma de teatro que negoceia com momentos específicos de prática social sem negar que tal é potencialmente problemático desafiador.” (Thompson, 2008: 107).

Para criar a relação que permite a aproximação quer às práticas, quer aos indivíduos que formam o contexto, é preciso conhecer o paradigma cultural onde estão imersas e a forma como cada um comunica com os seus quadros de referência culturais. Perspectivar o indivíduo em contexto implica a compreensão das suas percepções e sentimentos e de como as acções se desenvolvem no interior das relações sociais. A forma como as acções se manifestam é o produto do contexto social no qual o indivíduo evolui que, por sua vez, é condicionado e modificado pela acção dos sujeitos (Pontremolli, 2005).

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Chinyowa (2005) dá alguns esclarecimentos muito interessantes sobre este tema. 174

Taylor, neste texto, delineia os principais objectivos. 175

Na nossa opinião, esse é um dos objectivos da democracia cultural já amplamente difundido pela animação sociocultural que, como já vimos, tem outras raízes epistemológicas.

A este propósito foi notório, como elemento mobilizador de envolvimento do grupo, tanto a possibilidade de reformularem em termos performativos as suas referências culturais – de origem espectacular ou outras –, bem como o contraste resultante da mestiçagem entre o tradicional e o contemporâneo (CAL).

A atenção dada aos significados e percepções culturais e a forma como influenciam todo o trabalho são um dos elementos que mais afirma o Teatro Social: uma atenção especial à “pessoa” dentro do grupo e não ao grupo com entidades anónimas. Assim, transversal ao indivíduo e ao grupo, existe uma cultura ou culturas que lhe são específicas, um discurso, ritmo e sensibilidade que lhe são próprios. Ao considerar o colectivo como um conjunto de sujeitos participantes, devem ser previstas formas de intervenção, onde os indivíduos não são apenas os destinatários da acção mas também os seus promotores (Madison, 2005).

Enfoque no Indivíduo

Os vários entrevistados realçaram o enfoque no indivíduo como fundamental (ENTR). Procura-se edificar uma experiência performativa que seja significativa e com um potencial transformador para cada um dos elementos que a construiu. Também que dessa experiência surjam novas percepções acerca de um problema, de um conflito ou de um tema, ou ainda, que se ganhe novos insights acerca dos mecanismos sociais e das suas influências em determinadas áreas. O enfoque no indivíduo (Bernardi, 2004) está profundamente relacionado com dois dos principais objectivos de TeS, que são a recriação de papéis e a construção de pontes.

Após a finalização do projecto “Caleidoscópio”, alguns dos seus participantes testemunharam pequenas alterações no seu comportamento em relação a diferentes grupos – da comunidade escolar ou não – ou ainda o aumento de expectativas nas suas capacidades performativas, no sentido espectacular, mas também de performance social. No sentido inverso, também foram geradas novas perspectivas sobre as capacidades dos participantes. Assistiu-se a uma recriação de papéis, embora passageira, por parte do professor (CAL).

Contexto Institucional

Alguns dos elementos do painel focaram que, seja pela necessidade de diálogo como de persuasão, impõe-se que se mantenha uma atitude flexível para com a área de especialidade que preside à instituição; no entanto, é igualmente inegável que uma atitude

acrítica desvitaliza a capacidade de interrogar, agir e transformar (ENTR). Portanto, tem de haver uma atenção redobrada sobre a dependência em relação aos “discursos de políticas públicas” e evitar-se o desvio a que a intervenção pode estar sujeita (Nicholson, 2005; Kuppers, 2007a).

Uma das questões levantadas pela investigadora sobre este assunto, durante a intervenção “Caleidoscópio”, foi se seria necessário dar a conhecer, à instituição, os princípios de TeS e a sua filosofia de transgressão pacífica para além do tema – que provocava a sintonia entre escola e o projecto de TeS. Apesar de ter sido evidente que as práticas e filosofias subjacentes a ambas eram diferentes, sentiu-se a um determinado momento a deturpação dos valores de TeS a favor daqueles a serem desenvolvidos em situação de ensino-aprendizagem: a cidadania normativa em vez da cidadania em acção ou ainda os moldes de avaliação da intervenção (CAL).

– Os Representantes das Instituições Como Pessoas

Kemmis e McTaggart (2005) realçam que, estabelecer uma fronteira espessa entre os grupos onde é feita a intervenção e a instituição, tem grandes probabilidades de enviesar tanto a realidade quanto a acção transformadora a imprimir em ambos176. De facto, só através da mobilização de pessoas entre os representantes institucionais que se impliquem na transformação “em acção” – tal como Paul Heritage (2004b) sugere com os guardas prisionais – é possível o avanço num processo eficaz que não seja somente pontual; é na sequência da acção e na forma como afecta os vários elementos que a relação entre as pessoas em desvantagem e os representantes institucionais se torna mais fluida; só nesse momento, e incidindo nas pessoas que estão na base das instituições, deixa de existir a instituição em abstracto, e se evita o risco sempre latente de perverter a mudança em acomodação. Schininà aponta, em entrevista com a autora desta investigação, que os representantes institucionais são fundamentais a uma reformulação de papéis efectiva e que no convite à sua participação se deve evitar o cliché e entrever a pessoa por trás do seu papel como representante 177. Kemmis e McTaggart afirmam que o sucesso atingido em muitos dos seus projectos de acção participatória se deve não apenas à acção em si, mas também a um

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Segundo estes autores, os sistemas estruturais, como as instituições, podem ser opressivos, mas também conterem uma carga libertadora; bem como os processos relacionados com os universos de vida podem ser libertadores, mas também opressivos.

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É neste ponto que as afinidades existentes em meios rurais fazem balançar a impressão de “invisibilidade” e distância institucional: em Odemira conhecem-se os guardas, os vereadores almoçam nos mesmos restaurantes que os cidadãos comuns, os filhos andam juntos na escola, o que permite o encontro entre pessoas que não apenas nos ciclos institucionais onde detêm uma imagem ascendente.

conjunto de responsáveis pré-dispostos à exploração de possibilidades de mudança, mesmo que os novos formatos entrassem em contradição com os tradicionalmente utilizados; não é só o conceito de TeS que tende à inclusão mas também a matriz da acção que é inclusiva.

Sobre este tema, e tal como ficou patente na demonstração de resultados, foi visível a pré-disposição do professor para aceitar os moldes da intervenção, como representante institucional, o que facilitou o desenvolvimento do “Caleidoscópio” a diferentes níveis. Foi igualmente importante que o professor identificasse alguns dos objectivos previstos no projecto como sendo comuns à sua prática e à prática de TeS. Por fim foi positivo estar disposto a deixar entrever a pessoa por detrás do papel institucional, mesmo que episodicamente (CAL).

Sendo assim, a acção de TeS não deve incidir apenas nas necessidades do grupo mas também nas da instituição, assim como deve detectar o ponto sensível a uma possível sintonia para, a partir daí, explorar o potencial de crescendo transformativo. Tanto o grupo como a instituição têm de legitimar e reconhecer como credíveis a prática e os pressupostos teóricos do operador e da equipa e reconhecer as qualidades pessoais inerentes a todos os que se tornam participantes directos e indirectos178. Só neste universo de entendimento se poderá evitar que as acções de participação sejam absorvidas pelo sistema institucional num novo ciclo que é mais subtil no seu domínio, mas igualmente persecutório.

– Evasão, Colusão, Colisão, Transformação

Uma das formas de evitar os conflitos de poder é desenvolver a intervenção com base numa estratégia de competências comuns que valorize o contributo de cada um dos grupos e organizações intervenientes, bem como a flexibilidade no protagonismo de papéis dentro da totalidade do projecto. Giulio Nava (2009), director da companhia de “Teatro degli Affeti”, descreve quatro tipos de relação que se podem vir a estabelecer entre as instituições e o teatro: evasão, colusão (quando as performances teatrais são adaptadas às exigências da instituição), colisão e transformação; afirma que a última é a única aceitável na sequência de um trabalho consistente, onde a parceria e a simetria de vozes têm como consequência a aceitação recíproca.

Alguns autores (Bernardi, 2004; Pontremolli, 2005) apresentam uma análise muito interessante do pensamento de Paul Ricoeur e da irredutibilidade entre a categoria que é a

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Esta será uma das razões da importância dos projectos terem na sua base uma organização de prestígio, reconhecida como válida por todas as facções, como sucede por exemplo com as universidades e os seus estudantes, ao assumirem um importante papel durante a operacionalização.

instituição e aquela que é o TeS: a acção institucional rege-se pelo princípio de distribuição igualitária entre todos o que pressupõe o anonimato dos seus beneficiários e uma relação com o outro que nunca se poderá sustentar em laços de afinidade; os modelos de excelência, com a sua origem nas instituições, não albergam a função política ou ética da acção – já que não são representativos do jogo mas sim das regras do jogo. De onde, na perspectiva institucional, a regra a aplicar é a de “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti” (Bernardi, 2004: 71). Bernardi constata que esse princípio reduz eventualmente a violência mas não as assimetrias – incluindo aquela da distância e ascendente que se estabelece entre o representante institucional e o cidadão; em TeS, onde prevalece a ligação bidireccional e de afinidade entre pares, o “face a face” e o contacto “em presença”, o princípio seria o oposto: “Faz aos outros o que gostarias que te fizessem a ti” (Ibid.).

Contexto Espacial: Espaços da Performance

Foi unânime, em entrevista, que o TeS se pode desenvolver em qualquer espaço, em qualquer instituição e em qualquer território, desde que estejam salvaguardados os seus princípios conceptuais e éticos (ENTR).

O espectáculo pode ocorrer em locais que não são os destinados a apresentações teatrais. A “presença” do espaço não é um conceito abstracto quando este integra uma prática social dinâmica. O espaço é alvo da projecção das vivências, símbolos e embodiment por parte de uma determinada cultura e da sua história; nesta perspectiva e numa alusão a H. Lefebvre, Nicholson entende o espaço como “multiplicidade inscrita, e os seus significados são continuamente gerados e regenerados como um processo criativo com “muitos aspectos e muitas correntes contribuidoras.” (Nicholson, 2005: 127). Seleccionar um tempo e um espaço específico à performance implica projecção, visualização, antecipação e intencionalidade: significa que se inscreve num horizonte de sentidos e numa paisagem cultural e social que se articulam com o evento para que sejam retiradas múltiplas interpretações.

Em TeS, são privilegiadas as condições de mobilização de audiências em detrimento das condições técnicas tradicionalmente utilizadas, bem como a criação de condições de “à vontade” para os performers. Não se trata de provocar apenas a apresentação em locais “não teatrais” mas encontrar as interfaces entre duas disciplinas distintas, o teatro e o trabalho social, e percorrer as plataformas em que ambas se interactuam e se modificam.

Reforça a noção de espaço partilhado pelas culturas e o esbatimento da divisão imposta pelo auditório e proscenium.

6.2.3 A Diferença

Na diferença são reveladas as qualidades identitárias de indivíduos ou grupos que, por razões culturais ou outras, possuem opções, percepções, iniciativas, ritmos, necessidades ou qualquer outra característica que afirme a sua imagem e acção e colabore na construção do “mito” a seu respeito. Estas características podem ser um contributo para novos modos de interagir e novos recursos. Segundo Pontremolli (2005), é na “cultura da diferença” que emerge o espaço de inovação e mudança, para o exercício da liberdade de escolha de possíveis e a integração entre o novo e o existente. No entanto, não deixa de se constituir um desafio, já que o diverso pode representar igualmente uma ameaça, de passar a ser o que não se é, ou de colocar em cheque a coerência e solidez da visão de si, que precipita o medo. O medo fundamental do Homem – que está na origem do racismo – não deriva apenas da aceitação de seres diversos de si, mas de um ser igual a todos os outros, o que vaporiza a sua unidade e especificidade. Estas dificuldades são tanto mais acrescidas quanto maior o sentimento de vulnerabilidade individual ou social: nestas ocasiões são despoletadas resistências ao abandono de esquemas enraizados, que mais não são do que mecanismos de defesa resultantes da insegurança (Picolli, 2005). Para inverter este bloqueio há que

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