• Nenhum resultado encontrado

65 a atenção do público Estava, com perícia, provocando o que ainda pu desse

existir de respeito ou veneraç ão ou, até, de simples interesse mun dano pelo seu cargo de papa.

Moscou observava, com nervosismo, o crescimento do movimento do Solidariedade da Polônia e a decadência do comunismo político na quele país. Washington olhava com nervosismo as ameaças milit ares soviéticas de invadir a Polônia como haviam feito com a Tcheco -Eslováquia em 1968 e com a Hungria em 1956. Washington também se preocupava com a deterioração da situação na Nicarágua e na América Central.

Analistas financeiros e investidores internac ionais começaram a temer que um sucesso do Solidariedade arruinasse todo o sistema de inves timento, empréstimos e produção industrial construído nas economias dominadas pelos soviéticos durante vinte longos anos. As condições da mão -de-obra naqueles países, onde não havia sindicatos, não havia gre ves e os salários eram baixos, eram uma vantagem. Um Solidariedade que conseguisse liberdade de ação no campo das relações trabalhistas iria eliminar aquela vantagem.

Em 1980, Anatoly Adamshin, titular do Minis tério das Relações Exteriores soviético que lidava com a Itália, França, Turquia e Grécia, teve um encontro com o papa João Paulo II. “Se a Igreja se comprometesse a conter o ardor dos grevistas poloneses dentro dos limites aceitáveis por Moscou,” declarou Adamshin, “então Moscou, por sua vez, abandona ria a ideia de invasão.”

Moscou poderia, até, estar disposta a ir mais além. Esse “mais além” era a grande recompensa diante dos olhos de João Paulo.

Com aquela garantia, João Paulo decidiu avançar em suas ne gociações. Seus complicados esforços atingiram um clímax em fevereiro de 1981, quando Adamshin lhe fez uma segunda visita, dessa vez chefiando uma delegação soviética de alto nível. Outra vez, o assunto foi o Solidarieda de da Polônia. Uma vez mais, o assunto foi o formato no qual Moscou permitiria que o Solidariedade se desenvolvesse. Os resultados foram con cretos: poderia haver concordância soviética com o maior avanço do So lidariedade, desde que o sucesso do Solidariedade deixasse intatos três element os — o Partido Comunista da Polônia, o domínio da vida parla mentar polonesa pelos comunistas, e as forças comunistas de segurança (exército e polícia). O Solidariedade devia, em outras palavras, limitar -se aos campos da cultura, religião e relações trabalhistas. Nada de política. Nada de militarismo. Nada de sabotagem. Nada de ligações com o forne cimento americano de armamentos por baixo do pano.

Adamshin garantiu a João Paulo que aquela melhoria com relação ao Solidariedade, curando a continuada doença d a economia polonesa, atenderia ao interesse direto de seus senhores em Moscou. Acima de tu do, seria de interesse como exemplo a ser seguido em seus outros satélites

— os “outros fraternais estados socialistas” — nos quais a economia de mercado fechado estava sempre em dificuldades.

66

avisou indiretamente a João Paulo: o sucesso do movimento Solidarie dade iria significar o fim de uma força de trabalho industrial de baixo salário, sem greves e livre de impostos. E será que isso não teria efei to direto sobre a internacionalização de produtos manufaturados que se apoiavam naquela força de trabalho, não apenas na Polônia, mas em outros dos fraternos estados socialistas? E será que isso não iria afetar as carteiras de poderosos interesses? Adamshin não se referia apenas ao efeito para os stalinistas de linha dura na União Soviética e em outras partes.

Em abril de 1981, João Paulo II estava empregando ao máximo to das as mais profundas reservas de sua força e engenhosidade, a fim de carregar um terrível ônus duplo.

De um lado, ele se esforçava para manter a fidelidade dos aproxima - damente 350 milhões de católicos na América Latina; para evitar que eles caíssem na rede armada do marxismo, como o convenciam se m sombra de dúvida suas informações, não apenas dos aliados “normais” de Mos cou — Cuba, a Nicarágua sandinista e semelhantes —, mas dos jesuítas influentes, alguns cardeais, alguns bispos e muitos padres e freiras.

De outro lado, ele sustentava e orientava o movimento Solidarieda de na Polônia não apenas com conselhos, não apenas com recursos, mas pela intervenção direta junto à sucessão de governos desajeitados em Varsóvia, e aos amedrontados homens do Politburo em Moscou, já metidos até os joelhos no maldito problema do Afeganistão.

Além disso tudo, até os primeiros meses de 1981 o papa João Paulo já tinha conseguido viajar a vinte países espalhados por cinco continen tes, pregando em 23 línguas. Sua mais recente viagem, em fevereiro da quele ano, tinha sido uma estafante maratona de doze dias ao Paquistão, Filipinas, Guam, Japão e Alasca. Em toda parte, sua mensagem era a mesma: este é Pedro, o Apóstolo, em seu 267º sucessor, o vigário de Cristo, anunciando a necessidade de santidade e de justiça para tod os os homens em nome de Jesus.

Vista por qualquer ângulo, a atividade total desse papa era colossal. Sobrecarregava a sua resistência física e seus poderes mentais acima dos limites da maioria dos homens.

O geral jesuíta Pedro Arrupe, por outro lado, parec ia não ser capaz nem mesmo de completar os preparativos para a congregação geral de seus jesuítas. Tampouco parecia capaz de conter Fernando Cardenal. Ao contrário, Cardenal — como o papa — viajava por todo canto. Deixara claro, para audiências norte-americanas em sua viagem para fazer confe rências — principalmente no circuito de campi jesuítas — a sua capacidade, sua presença imponente e seus pontos de vista políticos e ideológicos. Ele se tornara um porta -voz sandinista tão empolgante e tão divulgado, a pesar das repetidas advertências de João Paulo a Arrupe, que em 1981, enquanto o seu papa transmitia constantemente uma mensagem inteira mente diferente e trabalhava por um objetivo totalmente oposto, Fernando Cardenal ficou encantado ao receber uma indica ção para o Prêmio Nobel

67

Outline

Documentos relacionados