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133 para tornar a vida segura Os nomes mágicos de cidades como Mondragon,

Rentería, Vergara, Roncesvalles (onde os bascos haviam feito em pedaços a retaguarda de Carlos Magno no ano 778 A.D.) nunca dei xavam que os bascos se esquecessem de sua história ininterrupta de inde pendência e ufania.

Quando Iñigo nasceu, Guipúzcoa, juntamente com todos os outros pontos isolados da cultura medieval, já estava se abrindo para a nova era.

O segundo grande acontecimento a influenciar Iñigo lhe foi resumi do numa palavra que tinha uma conotação quase místi ca para ele e seus contemporâneos: Reino. Há cerca de 750 anos do nascimento de Iñigo, a Espanha tinha sido invadida pelos muçulmanos. Os espanhóis os cha mavam de mouros, porque vinham do que então se chamava Mauritânia, que compreendia partes do Marrocos e da Argélia modernos.

A longa luta para expulsar os mouros da Espanha durou seiscentos anos. Famílias inteiras, como os Loyola, calculavam sua história em ter mos de batalhas em que seus membros tinham lutado, de condecorações ganhas por bravura, de mort es trágicas em combate. Quantas histórias Iñigo deve ter ouvido de Maria Garin e seu marido, de seus irmãos e de seu pai, sobre aquelas gloriosas batalhas!

Para os espanhóis, o Reino e seu destino eram todo o seu mundo. Em 1481, só a cidade e fortaleza sul ista de Granada ainda continuava em mãos mouras. O resto da Espanha estava unido sob a bandeira de Suas Mui Católicas Majestades, Fernando de Aragón e Isabel de Castela. O Mui Católico Reino só estaria seguro e integral quando o último centro de poder “inf iel” de Granada estivesse livre do soberano muçulmano. A segurança e a integridade do Reino estavam na mente de todos num país onde geração após geração continuava lutando e morrendo por ele.

O inimigo, o mouro, era visto como atarracado, de rosto moreno, que espalha a morte, astuto, fingido, covarde, alojado em sua fortaleza rochosa, fazendo ameaças de guerra, pilhagem e escravidão.

O mui católico rei era retratado como alto, de rosto claro, nobre e ilustre, ao chamar todos os seus súditos para lutarem pel o Reino e, assim, entrarem com ele na glória da vitória.

O pai de Iñigo, don Beltrán, e três de seus filhos responderam àquele chamado.

Para os mouros, porém, Granada era muito mais do que um ponto de apoio militar na Europa continental. Granada era um an tegosto sagrado e uma encarnação do paraíso.

O paraíso onde os muçulmanos acreditavam que Alá permitisse que os muçulmanos fiéis entrassem depois da morte — em especial depois de uma morte sofrida pelo bem do Islã — iria proporcionar tudo o que as áridas, causticantes areias e estepes do deserto sempre negaram a eles e a seus ancestrais árabes: vegetação verde e exuberante; campinas atapetadas de flores de uma beleza inimaginável; fontes limpas, claras, frescas e sempre em atividade; brisas refrescantes; s ombra confortadora embaixo de agradáveis palmeiras; alimentos em abundância; doces prazeres com

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belas mulheres; escravos em quantidade, para atenderem a todos os seus caprichos e desejos; nada de noites frias ou dias fervendo de calor, mas, em vez disso, o etéreo perpétuo; e os sons tranquilos da música típica do deserto, tocada por anjos em liras celestiais.

Mas em primeiro lugar entre todas as bênçãos paradisíacas estava o único artigo que no deserto, por ser deserto, tem sempre que faltar: água. A água , como o ar, é necessária à própria vida. Segundo a sagrada lei muçulmana, o Sharia, uma pessoa precisava de água para se lavar antes de rezar; e tinha -se que observar o Sharia, tinha -se que rezar pelo menos cinco vezes ao dia. Caso contrário, não se atingiria o paraíso após a mor te. Era exatamente por isso, na verdade, que os muçulmanos chamavam sua lei sagrada de Sharia; literalmente, Sharia significa “a estrada para o bebedouro” e, assim, “o caminho para o paraíso”.

Ora, Granada proporcionava tudo que o paraíso depois da morte prometia aos crentes devotos. Ficava no colo da Serra Nevada, na Andalu zia, a fértil região sul da Espanha. Era construída e decorada com suntuosidade, em cima e ao redor de dois montes entre os quais corria o tranquilo rio Derra. Em torno da cidade, os mouros haviam construído mes quitas e moradias que se erguiam adequadamente em sombrias alamedas que davam cidras, romãs, figos, maçãs, tâmaras e laranjas. Por toda a sua volta havia nutritivos vinhedos, hortas de legumes e prados. E acima deles, o sol era benigno no céu azul -anil.

Para os mouros, Granada era o paraíso na Terra, ou o que mais se aproximava disso. Não era de admirar, então, que eles protegessem a pe riferia de sua província com cidades e aldeias fortificadas, e com t orres de vigia guarnecidas por cavaleiros mouros sempre prontos com suas cimitarras.

A cadenciada música do deserto flutuava no ar, tranquila, em torno do paraíso de Granada até que os cavaleiros e as legiões de Suas Majestades Católicas finalmente acabaram com todo aquele cordão que a cerca va, com uma batalha atrás da outra, um massacre atrás do outro, e reduziram Granada às suas fortificações centrais.

Foram necessários dez anos de sangrenta guerra envolvendo espa nhóis de todas as partes do reino — três dos irmãos de Iñigo morreram lutando no que era uma guerra sagrada pelo Reino — até que Boabdil, o último rei mouro, apelidado na história pelo seu próprio povo de EI Zogaybi o Desventurado, decidisse capitular. Ele assinou a entrega de sua adorada Granad a no dia 25 de novembro de 1491, o 897º ano da hégira muçulmana. E no dia 6 de janeiro do ano seguinte, ele partiu com um salvo -conduto, em companhia de sua família real e de seu séquito real de criados.

A despedida daquele paraíso terrestre foi de cortar o coração, e mais tarde inspirou muito páthos e muita poesia. Antes de a comitiva real per der Granada de vista, ela fez uma parada às margens do rio Xenil. Os muçulmanos que partiam queriam olhar pela última vez para as torres vermelhas do Alhambra e sua fortaleza, que já fora inexpugnável, de Alcazaba.

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