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183 para as pesquisas positivas Ao mesmo tempo, Acquaviva fez com que o caráter

jesuítico fosse inculcado em detalhe cada vez maior promo vendo o uso dos

Exercícios espirituais de Inácio por não-jesuítas (clero e leigos). Esse esforço, por

sua vez, fez com que os jesuítas se tornassem mais entendidos de jesuitismo, mais instruídos sobre ele. Disso resultou toda uma tradição de práticas piedosas e devotas na Sociedade.

A direção firme e o rigor administrativo de Acquaviva provaram a verdade da percepção original de Inácio: se você conseguir realmente fundir a mente e a vontade de milhares de homens, se você lhes fornecer discipli na, treinamento e diretrizes inteligentes para o local e o tipo de traba lho serão poucos os limites para o que você poderá realizar. Quando ele se tornou padre -geral, seu gabinete já estava provido de assistentes que fa ziam todo o trabalho árduo e minucioso, deixando-o livre para cuidar dos problemas maiores. Seu sucesso foi fenomenal. Na sua época, o número de membros da Sociedade passou de pouco mais de 5.000 em 1581 para mais de 13.000 em 1615. Só entre 1600 e 1615, houve um aumento de 5.000. Os jesuítas trabalhavam por toda a Europa, em alguns países africanos e no Oriente Médio; expandiram-se até as Filipinas, a Indonésia e a Indochina; tinham grandes missões no Canadá, no Paraguai e no Japão. Ao todo, tinham 370 escolas e faculdades, 33 províncias, 120 residências jesuíticas e 550 comunidades.

Existe uma outra razão para que os jesuítas considerem a era de Ac quaviva como a Era de Ouro. Os seus santos mais conhecidos: Robert Bellarmine, Peter Canisius, Aloysius Gonzaga, Peter Claver e Alfonzo Rodríguez; seus doutos preeminentes: Francisco Suarez, Molina, Lessius, Francisc o de Toledo; seus renomados escritores espirituais: Alvarez De Paz, Luis de la Puente, Antoine le Gaudier; todos floresceram naquela época. Esses nomes podem não ser muito conhecidos hoje, mas houve época em que eram.

Em obediência sistemática, nas formas que modelaram o caráter jesuítico, na ideia jesuítica de conciliar fé religiosa com ciência, na criação de modelos para a devoção popular, bem como no serviço direto e sub misso da Santa Sé, pode-se dizer que Claudio Acquaviva se destaca entre todos os 27 padres-gerais que governaram a Sociedade desde a morte de Inácio em 1556. Ele foi, em certo sentido, o segundo fundador do jesuitismo.

Com o tempo, todos os países da Europa e das Américas sentiram a influência jesuítica como elemento principal na maneir a de ver as coisas e na linguagem de seus líderes e de seus povos. Através do caráter da Sociedade imaginado por Inácio e consolidado por Acquaviva, os jesuí tas como indivíduos e a Sociedade como instituição adquiriram uma iden tidade fixa aos olhos das populações a que serviam. Com aquele ritmo lento, firme e uniforme de aprendizado; com suas tradições nunca inter rompidas de erudição, zelo no ensino, formação do caráter por meios provados, ortodoxia geral de crença, e regularidade de práticas e estilos de vida, os jesuítas não apenas formavam sacerdotes e teólogos, formavam

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e orientavam espiritualmente (e às vezes politicamente) príncipes e reis, mulheres e amantes de reis, líderes políticos de todos os níveis e, é claro, bispos e papas.

Esse caráter transparecia nos vários papéis que os jesuítas represen tavam, as diversas “casacas” que usavam: o jesuíta professor, o jesuíta confessor, o jesuíta pregador, o jesuíta cientista, o jesuíta teólogo, o je suíta humanista, o jesuíta missionário, o jesuíta escritor, o jesuíta emissário, o jesuíta guia espiritual e diretor.2 Mas apesar da multiplicidade de papéis representados e das “casacas” usadas, a qualidade central do caráter jesuítico era especificada por um determinado traço: devoção à pessoa de Jesus — ao Jesus de Nazaré e da História, que viveu, morreu e ressuscitou dos mortos; que agora vive para sempre como salvador e Deus de todos os homens; e que está representado na Terra por um homem vivo, o bispo de Roma, o papa da Igreja Católica.

Essa qualidade central do caráter jesuítico originava -se diretamente da espiritualidade pessoal e dos ensinamentos de Inácio.

Todo jesuíta entrava para a Sociedade com a convicção de que ti nha sido chamado pessoalmente por Jesus para se tornar um dos alia dos de Jesus; literalmente, para se tornar um dos companheiros de Jesus. Daí, a Companhia de Jesus. E daí a nota jesuítica estritamente indivi dualista: o chamado foi feito a mim pessoalmente; e minha resposta foi dada a essa pessoa, Jesus. Eu disse sim a Jesus. Com base nesse sim, fui admitido em sua companhia e na companhia daqueles já intimamente associados a Ele em sua campanha como salvador pelos tempos afora, pelos espaços afora. Os associados íntimos eram, principalmente, a Virgem Maria, os anjos, os santos e, depois deles, meus companheiros na Sociedade.

Tudo em relação à Sociedade visava fortalecer aquele chamado e, ao mesmo tempo, diferenciá-lo de outros chamados. Do chamado, por exemplo, de cristãos comuns para que obtivessem a salvação em ocupa ções humanas comuns; do chamado do monge ou da freira para viver num mosteiro ou num convento fechado; do chamado de um “cristão que tornou a nascer” no século XX. Ele também era diferente do cha mado sentido por muitos, hoje em dia — inclusive alguns jesuítas — que professam uma crença apenas no que chamam de “Jesus da fé” e declaram que estamos desligados para sempre do “Jesus da história” e “de Nazaré”. Inácio e toda a tradição jesuítica teriam tratado tal pro - fissão como aquilo que ela é: um artifício semântico p ara trivializar aquela pessoa, Jesus.

Essa devoção era dedicada àquela pessoa. Eu havia garantido a co - municação com Ele.

O Jesus ao qual eu, como jesuíta, respondi com a minha afirmação e meu compromisso pessoais, podia ser ouvido e obedecido pessoalmente através de hierarquias de superiores, cada qual falando, segundo o seu mandato individual, com a voz e a autoridade daquele Jesus a quem eu havia respondido. O primeiro e mais alto superior era o único vigário de

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