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55 esquadrão sandinista composto de seis homens, usando bazucas e

metralhadoras. As 25 balas que perfuraram o corpo de Somoza livraram o novo regime do assustador medo de sua volta. Até fevereiro de 1980, cerca

de 2.000 inimigos políticos dos sandinitas tinham sido executados. Uns 6.000 mais estavam na prisão. Por enquanto, tinha cessado toda a oposição ao s

sandinistas.

Desde os primeiros dias no poder, a junt a sandinista incluiu aqueles mesmos cinco sacerdotes leais e úteis no novo governo, em cargos a nível de ministério. O jesuíta Fernando Cardenal; o jesuíta Alvaro Arguello; o padre Ernesto Cardenal; o padre Maryknoll, Miguel D’Escoto Brockman; e o padre diocesano Edgar Parrales.

Na sequencia imediata da revolução de julho de 1979, com a aquiescência do papa João Paulo II, que tinha sido eleito há apenas nove meses antes, os bispos nicaraguenses permitiram que Fernando Cardenal e os

outros padres católicos q ue serviam ao governo em todo o país continuassem em seus cargos políticos “temporariamente, até que o país se recuperasse dos efeitos da revolução armada”. Os bispos não viam grande dificuldade nisso. Não tinham eles próprios declarado, em junho de 1979, às vésperas mesmas da derrubada de Somoza, que “ninguém pode negar

a legitimidade moral e legal” da revolução sandinista? Na verdade, eles foram

muito mais além em sua famosa carta pastoral de 17 de novembro

de 1979, intitulada O compromisso cristão para uma nova Nicarágua. Nela, eles

apoiavam o “socialismo” e a “luta de classes” e diziam que a revolução estava introduzindo “uma nova sociedade que é autenticamente nicaraguense, e não dependente dos capitalistas ou totalitária”.

A ingenuidade política e a i gnorância sociológica ressaltam de cada uma das linhas daquela carta. É claro que somos a favor do socialismo, afirmavam com vigor os bispos, se socialismo significar dar preeminência aos interesses da maioria dos nicaraguenses (...), “uma continuada redu ção da injustiça (...) seguir o modelo de uma economia planejada de âmbito nacional (...)”. Admitiam “a realidade dinâmica da luta de classes que leve a uma justa transformação de estruturas (...)”; mas, acendendo tam bém a outra vela, os bispos se opunham claramente ao “ódio de classes”, por ser contrário ao “dever cristão de ser governado pelo amor”.

Lendo aquela carta, pode-se ter ficado tentado a responder: “Digam isso aos húngaros, excelências reverendíssimas; os homens da Igreja de les também colaboraram com a revolução ‘socialista’. E o mesmo fize ram os de Cuba.” No entanto, àquela altura, mesmo uma dessas duchas de água fria não teria feito diferença alguma para os bispos da Nicará gua. Depois da queda de Somoza, uma espécie de euforia para com o ma rxismo tomou conta da mente de muita gente — bispos, jesuítas, padres e freiras missionários Maryknoll, padres diocesanos e leigos. Tampouco os católicos estavam sozinhos. Cinco pastores protestantes emitiram uma declaração em 1979 alegando que “os cristã os podem usar, com dignida de, análises marxistas sem deixarem de ser cristãos”, e que “os marxistas podem ter fé em Jesus Cristo sem deixarem de ser revolucionários”.

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Na verdade, a euforia parecia jorrar como se de várias torneiras, inun - dando o mundo. O sacerdote-poeta Ernesto Cardenal escreveu, na edi ção de abril de 1980 de One World, a revista do Conselho Mundial de Igrejas: “Eis uma revolução que leva um profundo sinal de amor cristão. Basta que se olhe para os rostos dos jovens sandinistas que andam armados pelas nossas ruas. Neles não há ódio, sua aparência é íntegra, seus olhos brilham e seus corações cantam.”

O reverendo Ian Murray, presidente do Fundo Escocês Católico de Ajuda Internacional (SCIAF), visitou respeitosamente a Nicarágua e olhou pa ra todos aqueles rostos jovens. Deu aos sandinistas o seu “irrestrito apoio”, porque “na Nicarágua é quase como se tivesse sido feita uma tentativa de implementar as Bem-aventuranças”.

O padre Carney, um jesuíta que trabalhava entre os mais pobres da Guatemala, escreveu extasiado sobre “esse maravilhoso, popular proces so revolucionário sandinista” e sobre “a íntima relação entre o sandinismo, tal como é vivido hoje na Nicarágua, e a Cristandade”; e falou sobre

o seu trabalho “com os líderes leigos e muitos bons cristãos revolucioná rios Delegados do Mundo, a maioria dos quais pertence à milícia sandi nista”.

Esse tipo de loucura “ecumênica” deliciava a mente dos jesuítas e de muitos outros. Encontrava uma expressão lírica, quase poética, em pu blicações religiosas dos Estados Unidos. E produzia um eco acolhedor num personagem da importância do geral jesuíta Arrupe, em Roma. Suas pa lavras “aos nossos irmãos na Nicarágua”, que estavam “defendendo os pequeninos de Deus”, eram calorosas e encorajadoras.

Os homens de Arrupe na Nicarágua, certos do apoio de seu mais al to superior na Ordem, ousaram ainda mais. “Se alguém na Nicarágua não estiver disposto a participar da revolução”, disse o padre jesuíta Ál varo Arguello do seu cargo governamental em Manágua, “o certo é que este alguém não é cristão.” A viravolta estava completa.

Inevitavelmente, bispos nicaraguenses e funcionários do Vaticano per - deram todas as suas ilusões. Ao final de 1980, a lua -de-mel acabou. O investimento sandinista de vida militar e civil na Nicarágua com instrutores, guias e supervisores cubanos e europeus orientais, o conhecido rela cionamento com Moscou e a tática exageradamente brutal dos sandinistas na remoção de todos os obstáculos que estavam em seu caminho — tudo isso e mais — obrigou-os a perder sua euforia pela revolução.

No final de 1980, por insistência de João Paulo II, os bispos nicaraguenses solicitaram aos sacerdotes que estavam no governo sobre os quais exerciam autoridade direta, que saíssem da política e do governo e vol - tassem aos seus deveres clericais. Solicitaram, também, aos jesuítas e su - periores Maryknoll em Roma e na América Central que chamassem de volta Fernando Cardenal e os outros jesuítas, bem como Miguel D’Escoto Brockman, sobre os quais os bispos não tinham ju risdição.

O melhor que os bispos conseguiram provocar com a sua ordem foi uma luta que lembrava uma gangorra, na qual todo o peso parecia estar

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