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53 A WOLA, que se tornou, de longe, o mais direto desses grupos de

pressão em favor dos sandinistas nicaraguenses, levou dois dos sacerdotes - guerrilheiros do seu carro-chefe para prestarem depoimentos perante comitês do Congresso dos EUA. Um deles foi o irmão de Fernando Cardenal, Ernesto, que àquela altura já se tornara o poeta -cantador da revolução sandinista e um marxista declarado. O outro foi o padre Maryknoll, Miguel D’Escoto Brockman, menos poético mas sucinto: “Nós apoiamos um novo sistema não - capitalista para a Nicarágua”, disse ele aos legisla dores americanos.

A emergência da Washington pós -Vietnã e pós-Watergate produziu um verdadeiro país das maravilhas para aqueles altamente inteligentes, extraordinariamente capazes, e até romanticamente atraentes ativistas - embaixadores entre a liderança sandinista. Era a Washington do governo Carter. Os pontos de vista democráticos de esquerda, encarnados de ma neira mais visível em políticos da estirpe de Georg e McGovern, Birch Bayh, Frank Church, Robert Drinan e Edward Kennedy, dominavam a cena. Os homens de Carter nas Nações Unidas — notadamente Andrew Young e Brady Tyson — exerceram influência sobre o governo, a fim de que ne nhuma das aventuras de Fidel Castro, fosse em Angola, na Etiópia ou na América Latina, provocasse uma reação adversa. “Não entre em pânico por causa dos cubanos em Angola”, aconselhava Andrew Young a Carter.

Um dos principais objetivos do presidente Carter se tornou a con clusão dos Tratados do Panamá, que há muito eram adiados. O homem

forte do Panamá era Omar Torrijos, amigo pessoal e protetor dos líderes sandinistas e de Fidel Castro, de Cuba, e homem pelo qual Carter, por sua vez, nutria amizade pessoal. Torrijos também aconselhou Car ter a não se intrometer nas questões da Nicarágua. A ambição de Carter era assinar o Tratado do Canal do Panamá; Torrijos era uma peça essencial daquela ambição. Torrijos era ouvido, muito embora Carter soubesse que ele estava fornecendo armas e dando asil o aos sandinistas.

Nem todos os objetivos desses competentes porta -vozes e embaixa dores sandinistas em favor da revolução marxista em roupagem teológica estavam centralizados em Washington ou mesmo nos Estados Unidos — e é certo que nem todos eram políticos. Foram persuadidas e conquista das como divulgadoras e defensoras dezenas e dezenas de publicações re ligiosas — jornais, revistas, boletins, circulares — editadas nos Estados Unidos pelos jesuítas, pelos missionários Maryknoll, pelas irmãs de Loreto, p elas irmãs de São José da Paz, pelas irmãs de Notre Dame de Namur, pela Conferência de Liderança de Mulheres Religiosas, pela Conferência dos Superiores Máximos dos Homens e organizações afins. Na Irlanda, na Inglaterra e na Europa, publicações jesuíticas defendiam com denodo a revolução nicaraguense e o papel, nela, dos clérigos.

Em toda parte, ativistas e partidários jesuítas assumiram a causa. Eram dedicados, cultos, capazes e eficientes, inspirados, como disse um deles, “por uma sensação de que nossa mi ssão, como jesuítas, é promover

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a justiça social e expressar nossa opção preferencial pelos pobres, sob

o ponto de vista existencial”. No contexto nicaraguense, tudo isso signi ficava o apoio à “Igreja do Povo”, la iglesia popular.

Ao chegar o ano de 1977 , toda aquela atividade já havia proporcio nado um avanço realmente grande para os sandinistas. Quando Ernesto Cardenal foi recebido em Washington como convidado da WOLA e do IPS, ele falou com eloquência no programa Mesa -Redonda Sobre a Amé rica Latina organizado pelo IPS/TNI sob a direção de Orlando Letelier, que segundo conclusão de pesquisadores era agente cubano. Um simples exame de alguns dos membros daquela mesa-redonda é, também, um exa me tanto do apoio quanto das intenções dos sandinistas. Além de Letelier e de sua assistente Roberta Salper, participavam Cheddi Jagan, chefe do Partido Comunista da Guiana, pró - soviéticos; Julian Rizo, membro da organização de inteligência (DGI) de Castro e da polícia secreta de Cu ba, e elemento usado por Letelier para fornecer exemplos demonstrativos; e James Petras e Richard Fagan, americanos conhecidos por serem abertamente a favor de revoluções ao estilo cubano em toda a América Latina. Realmente, como Shaull, do NACLA, dissera há nove anos atrás, em 1968: “Cada vez mais, na América Latina, os cristãos e os marxistas estão não só mantendo um diálogo, mas trabalhando juntos.”

Em meados de julho de 1979, o destino da Nicarágua estava selado. Depois de uma prolongada revolução na qual 45.000 pessoas ficaram fe ridas, 40.000 crianças ficaram órfãs, e mais de 1.000.000 de pessoas re duzidas à ameaça de morte pela fome, os sandinistas entraram em triunfo em Manágua, no dia 17 de julho de 1979. Em 19 de julho, toda a oposi ção já havia sido esmagada. Depois de 42 anos de domínio, o ditador Luis Somoza foi deposto pelas três facções da Frente Sandinista para a Liber tação Nacional (FSNL), agindo com a FPN (uma frente ampla de oposi ção), bem como com uma coalizão de organizações de juventude, partidos radicais de esquerda e grupos de trabalhadores.

A vitória, quando chegou, foi um doce consolo para Castro de Cu ba, em parte porque os planos de assalto tinham sido organizados sob sua orientação, e em parte porque a marxista FSNL tinha ficado no topo quando a poeira assentara; mas talvez acima de tudo porque aquela tinha sido a única vitória de Castro naquele ano. Dos quatro grupos guerrilheiro -terroristas que lutavam pelo poder na América Latina na década de 1970 graças às armas e à influência de Castro, os tupamaros uruguai os, os montoneros argentinos e os socialistas porto-riquenhos tinham fracassado. Só o grupo sandinista na Nicarágua obtivera sucesso.

Se Castro estava consolado, Jimmy Carter também parecia estar. O governo Carter contribuiu, imediatamente, com milhões de dólares americanos obtidos com impostos, para o regime sandinista; e Carter posou com o atraente e jovem líder sandinista, Daniel Ortega y Saavedra, e dois outros membros de sua Junta, no Jardim das Rosas da Casa Branca.

Mais tarde, naquele ano, Somoza, seu motorista e seu guarda -costas foram trucidados numa rua de Assunção, capital do Paraguai, por um

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