• Nenhum resultado encontrado

81 de 1942, 1944 e 1962 entre Moscou e o Vaticano eram assuntos inter nos da

Santa Sé. Assim como as conversações e combinações privadas de Sua Santidade naquele momento, com o governo americano, eram as suntos internos e privados de Sua Santidade e da Sa nta Sé.

Por isso mesmo, então, os esforços dos jesuítas deviam enfrentar rea - lidades sociais e políticas. Eles não deviam ser pintados de marxistas. Fa ziam parte do fermento na Igreja. E eram uma parte muito valiosa.

Indiretamente, uma vez mais, e sem uma crítica pessoal a João Pau lo,

Stato tinha chegado aonde queria. Aos olhos de muitos, tratar com os

americanos era tão errado, ou pior, do que tratar com os marxistas soviéticos. Todo mundo faz o que acha melhor segundo as circunstân cias. Os jesuítas estavam lidando com situações em que o comunismo já predominava. Talvez os métodos deles fossem tão aceitáveis como quais quer outros.

Stato apressou-se a acrescentar, porém, que os abusos deveriam ser

corrigidos. Com toda certeza, o padre Arrupe e os outros líderes jesuítas poriam sua casa em melhor ordem quando se reunissem em Roma para a sua próxima congregação geral. Já estavam sendo feitos intensos pre parativos. Se houvesse uma espera paciente, na opinião de Stato, toda aquela questão poderia ser regulada e ajustada. A última coisa de que se precisava, na verdade, eram maiores divisões e rupturas.

Stato havia, com efeito, repetido sua oferta de uma chegada a um meio -

termo e renovou sua ameaça.

Uma possibilidade dupla daquelas, o prato perfeito para Vescovi, acabou por atrair aquele cardeal a entrar na discussão. Seu único motivo foi

o de manter a boa imagem. Afinal, a supressão generalizada dos jesuítas iria criar um grande número de claros em colégios, seminários, missões, universidades e institutos. Mui tos bispos ficariam com graves problemas de pessoal. E aquilo iria sacrificar os muitos excelentes jesuítas que conti nuavam sendo destacados defensores do papa e da Igreja. O que Sua San tidade precisava era de uma reforma dos jesuítas. E sem dúvida, como Stato dissera, o melhor seria deixar que o assunto seguisse um curso cons titucional. Deixem que os jesuítas se reúnam para sua congregação geral. Uma vez reunidos os líderes em Roma, Sua Santidade teria o poder jurí dico de intervir e de fazer com que eles legislassem a sua própria reforma. Se necessário fosse, o padre Arrupe poderia ser aposentado. Como disse ra Stato, com paciência tudo poderia ser colocado em ordem.

Dottrina ficara muito pouco satisfeito com a mediação de Vescovi.

O papa Paulo VI, salientou Dottrina, cujo nome tinha sido invocado vá rias vezes naquela discussão para justificar os jesuítas, tentara por duas vezes reformar os jesuítas usando os mesmos meios que Vescovi e Stato estavam sugerindo. Por duas vezes, aqueles meios haviam falhad o. A situação exigia uma ação mais expressiva.

O que, queria saber Stato, Dottrina consideraria “uma ação mais ex- pressiva”?

82

Primeiro, aceitar o “pedido de exoneração” do padre Arrupe. Segu ndo, nomear um supervisor papal para supervisionar os preparativos de uma reforma realmente efetiva dos jesuítas na próxima congregação geral.

Como em geral acontece em reuniões desse tipo, chegara -se ao ponto em que todos os lados reconheciam que o melho r que cada um deles poderia fazer era aceitar uma vitória parcial. Dottrina havia começado com uma esperança de supressão total da Sociedade. Stato havia defendido o laissez-faire. A ação em duas etapas, sugerida por Dottrina, era um meio-termo para os dois. Era o máximo que qualquer um dos adver sários podia esperar levar naquele momento.

Fez-se silêncio. O papa João Paulo olhou rapidamente para cada um dos cardeais. Todos eles fizeram sinal de assentimento com a cabeça. O secretá rio de Estado foi o único para o qual o papa olhou mais demoradamente.

Sua Santidade teve apenas uma observação a fazer quando finalmente se ergueu para deixar a sala de conferência: “Ora, meus cardeais precisa ram de oito votações secretas para me elegerem papa. Muito bem.”

Ninguém entendeu aquela observação. Seria algum tipo de ironia? Ou uma referência ao respeito que então era devido à sua figura papal? Ou um aviso de que ele poderia angariar apoio suficiente entre os car deais a fim de agir sem ligar para Stato e qualquer outro na questão dos jesuítas? Apesar de todas as deliberações e de toda a romanità dos presentes, aquele papa que, como certa vez ele mesmo dissera, tinha “vindo de um país muito distante”, onde estivera acostumado a neutralizar gol pes no duelo com o dragã o marxista, conseguira terminar a reunião com uma perturbadora nota de incerteza para seus cardeais de Estado.

Mas de uma coisa todos estavam certos. Muito em breve, o geral Pe dro Arrupe receberia uma descrição, golpe a golpe, da reunião. Ficaria sabendo de tudo o que fora dito. Iria saber que aquele santo padre não era nem um Paulo VI cuja fraqueza o tornava maleável, nem um João XXIII cujas esperanças visionárias o cegaram para as maquinações de su bordinados. Iria saber que, por enquanto, havia sido neutralizado um ata que de frente à Sociedade, não por amor a Arrupe ou estima pela Socie dade, mas porque aquilo interessava ao plano de ação do atual secretário de Estado e às ambições pessoais de Religiosi e Vescovi.

Com ou sem ataque frontal, entretanto, Arrupe, o papa negro, era tão realista quanto Wojtyla, o papa branco. Seria apenas uma questão de tempo par que o santo padre avançasse sobre a Sociedade de Jesus, para reformá -la de cima a baixo, ou para acabar com a sua existência, possivelmente para sem pre. Em qualquer dos dois casos, dessa vez Arru pe, que se agarrava obstinadamente à convicção de que ele e seus jesuítas sabiam melhor do que o seu vigário o que era bom para a Igreja de Deus, teria que deixar o cargo.

O palco romano parecia preparado par a uma batalha de titãs. Aconteci mentos imprevisíveis e decisivos despencaram naquele palco, porém, e dan çaram uma jiga de ironias e tragédias.

83

Outline

Documentos relacionados