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167 das “adaptações” sócio-políticas do século XX, já mostrou, na história

fria de populações inteiras, ter sido uma ilusão quase satânica, uma trans - formação de nações numa série de infernos dos quais gerações inteiras não conseguiram achar saída. Muros de pedra e armadilhas de aço foram os meios de Lenin para o fim para o qual ele exigia absoluta obediência c submissão.

A promessa do jesuitismo, enquanto iss o, durou enquanto os pró prios jesuítas se mantiveram fiéis aos princípios de Iñigo, enquanto o modelo inaciano se mirava na interpretação que eles davam a suas Constituições, e enquanto eles honraram a fé que sublinhava todas as palavras de Iñigo. O fracasso que os jesuítas tiveram neste século tem suas origens no mesmo passo em falso que Lenin deu. Na década de 1970, a Ordem adotou uma norma de adaptação sócio-política que levava à mesma con tradição inerente que garantiu o fracasso final do leninismo.

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8. A COMPANHIA DE INÁCIO

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estrutura funcional da companhia de Iñigo é a realização milagrosa da transformação, feita por Iñigo, de seus contemporâneos do século VI, de homens que achavam que “o homem é a medida de todas as coisas” em homens dedicados a um Deus e Salvador que envolve todas as coisas.

Seus contemporâneos estavam marinados na fantástica novidade da vida em sua época, com todas as suas possibilidades de ouro. Sua reação foi deixar para trás as velhas formas de pensamento e modelos de com portamento, as velhas maneiras de viver, até mesmo os antigos lugares onde tinham vivido e as antigas verdades pelas quais eles ali tinham vivi do — tudo o que haviam herdado de seus antepassados medievais.

Face a face com aquela mentalidade, Iñigo traçou os planos para a sua Companhia de Jesus sobre um modelo ainda mais antigo do que a Idade Média, ou seja, o princípio básico da própria cristandade: subordi nação. A subordinação do cosmo e de tudo o que nele estivesse — desde as pedras e a terra inanimada até as plantas, os animais, os seres huma nos, anjos e arcanjos, dentro de um princípio hierárquico de ser — à Trindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não há democracia nessa hierarquia, nenhum objetivo comunal de iguais; só inferiores e superio res. Não há o individualismo que tenta se auto-aperfeiçoar; não há inte gração pessoal. Há uma hierarquia de partes ordenadas; há indivíduos destinados, cada um deles, a complementar o outro; há integração de cada parte no todo na medida em que cada parte seja subordinada. Porque ser uma parte desse sistema é ser subordinado. A única igualdade permitida era a subordinação. Todos eram subordinados. Dentro daquele sistema hierárquico de ser e de existir, cada objeto tinha o seu lugar. O Criador de tudo arrumou tu do numa certa harmonia e ordem.

Foi isso o que Deus revelou no início aos Filhos de Israel através de seus profetas. Foi isso o que Cristo revelou em toda a plenitude. É essa a base de toda a antropologia cristã, que difere — e a ele se opõe — do darwinismo do século XIX, genético, social e político. Nenhum desen volvimento humano, por mais novo que seja, e nenhuma modernidade

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— seja a da Renascença, seja da era atômica, tecnotrônica — pode suplantar aquele sistema.

Iñigo destinou sua Sociedade a reproduzir em sua existência de ativi dades aquele princípio hierárquico segundo o qual “o subalterno se sub mete ao superior” e no qual todos os elementos estão unidos no reconhe cimento da autoridade maior e, portanto, prontos a obedecer. Ele pre tendia que os membros de sua Ordem ficassem unidos por uma união mís tica de corações e vontades em subordinação voluntária, sujeitos aos superiores, os superiores ao geral, o geral a toda a Sociedade, a Socieda de inteira ao papa, o papa a Cristo, de quem ele é o representante terreno.

A Companhia de Iñigo era, portanto, extremamente simples em sua estrutura — tão simples, que seus inimigos estavam sempre convencidos de que o jesuitismo era muito mais do que aparentava na verdadeira es trutura da Sociedade.

Era uma pirâmide de autoridade. No seu topo, ele colocou um ho mem, que atendia pelo título de geral ou padre -geral. O título não foi tirado do código militar. Esse alto funcionário tinha autoridade sobre a estrutura geral e governava toda a Sociedade. Não tinha obrigaç ão de seguir conselho algum ou de procurar o consentimento de qualquer outro jesuíta quando desse ordens. Ele era o “superior” geral, diferente de to dos os outros “superiores” da organização, que eram locais e encarrega dos de determinadas seções. Só ele, de todos os superiores, obtinha o seu cargo mediante eleição; todos os outros superiores eram nomeados por escolha dele ou, pelo menos, com a sua aprovação; e, uma vez eleito ge ral, ele continuava no posto até morrer, a menos que razões muito graves rec omendassem a destituição do cargo. Sua autoridade era absoluta sobre a Sociedade toda, suas várias partes e membros. Podia afastar qualquer pessoa da Ordem, e não era necessário qualquer julgamento formal ou processo similar. Iñigo foi eleito por unanimidade, em abril de 1541, o primeiro padre-geral da Sociedade.

O corpo da Sociedade era composto de quatro categorias, ou graus, como são chamadas na Sociedade; os membros eram distintos, de ma neira geral, pelo grau de acesso às importantes posições de gove rno e direção do pessoal e dos recursos da Sociedade. Na prática isso signifi cava a sua proximidade ou distância do geral na pirâmide de autoridade e poder.

Primeiro, em relação a isso, estava a categoria ou grau de padres pro - fessos. Os jesuítas desta categoria eram aprovados em rigorosos testes escolásticos e nas provas de sua qualidade religiosa; faziam três solenes votos de pobreza, castidade e obediência (votos comuns a todas as ordens reli giosas católicas); e faziam um voto especial de obediência ao papa. Enquanto todos os jesuítas tinham obrigação de obedecer ao papa, os professos se comprometiam por aquele quarto voto, especial. Só esses pro fessos tinham acesso ao cargo máximo de geral, e aos postos mais ime diatos abaixo do generalato. E só eles podiam participar da eleição de um geral.

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