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77 enviando ondas de choque por todo o mundo internacional da s finanças.

Fossem quais fossem as consequências, o Banco Ambrosiano e seu dire tor, Roberto Calvi, que fora indiciado no escândalo de seu banco, tinham estado ligados àquele importantíssimo fornecimento clandestino de fun dos ao Solidariedade.

É claro que o secretário confiava em que tudo sairia bem para a re - putação da Santa Sé e dos esforços do santo padre em favor de sua queri da Polônia. Ninguém poderia duvidar da devoção que ele dedicava aos melhores interesses da Santa Sé e do santo padre. Era com es se espírito que ele fizera seus comentários anteriores sobre os jesuítas.

Até mesmo a romanità teve dificuldades em digerir a massa dura de ameaças políticas e financeiras que Stato decidira empurrar pela mesa em direção ao pontífice.

Para Propaganda, com aquela sua sinceridade cativantemente sim ples, parecia ser hora de mudar. Hora, disse ele em tom apaziguador, de discutir algo que ele podia compreender muito melhor do que as comple xidades da política européia-ocidental ou o relacionamento dos jesuítas com os marxistas. Hora para discutir o que acontecia naquela parte da Igreja confiada aos seus cuidados — os campos missionários da África e da Ásia.

Propaganda havia preparado um relatório com antecedência; havia uma

cópia em cada pasta de damasco vermelh o, e o documento tinha si do lido por inteiro por todos, antes da reunião. Aquele relatório, que ele resumiu em poucas palavras, mostrava em doloroso detalhe até que pon to os missionários jesuítas trabalhando na Índia tinham ido na adultera ção da fé cristã. O resumo de Propaganda só abordou o significado de formado de sacerdócio, do batismo, do Sacramento da Eucaristia, e da primazia e da autoridade do santo padre na Igreja, segundo o que os je suítas ensinavam na Índia. Falou, então, da diluição, para formas irreconhecíveis, das crenças cristãs básicas na imortalidade, Céu e Inferno, no valor da oração, da mortificação e da penitência, no significado da Missa e da salvação.

Propaganda foi muito mais arrasador em suas observações porque parecia

não ter interesse pessoal algum. Ele tinha apenas uma pergunta: por quê? Por que haviam os jesuítas adulterado e deformado até mesmo as mais centrais crenças cristãs? Ele sabia que os próprios jesuítas se refe riam a “inculturação” e “indigenização”. Mas o resultado era uma organizada e Sempre progressiva descristianização daquilo que na Índia fora, certa vez, uma florescente população católica romana de cerca de três mi lhões de pessoas.

Propaganda respondeu à sua própria pergunta no mesmo tom sere no em

que a fizera. Os jesuítas, na Índia, haviam se tornado aquilo que eram porque eles e seus superiores romanos tinham continuado a seguir os ensinamentos do padre jesuíta Pierre Teilhard de Chardin. Teilhard de Chardin fora, na verdade, o querido dos jesuítas intelect uais, durante quase quarenta anos, apesar da condenação do homem e seus escritos pela

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Santa Sé, em 1960. Aqueles trabalhos, lembrou Propaganda a seus veneráveis colegas nas mesmas palavras da condenação oficial, “estavam cheios de ambiguidades, de graves erros, mesmo, ofendendo, com isso, a doutrina católica”. Não era de admirar, então, no entender de Propaganda, que se os jesuítas teimavam em seguir a estrela de Chardin, eles estivessem com ideias contrárias ao bem-estar da Igreja.

Em suma, Propaganda concordava tanto com a condenação do je suíta de Chardin em 1960, quanto com a acusação da sociedade como um todo pelo santo padre, em 1981.

A princípio parecia que Clero iria limitar sua contribuição a uma am- pliação do elo indicado por Propaganda entre a obra de Teilhard de Char din e a atividade dos jesuítas na época. Por que seria, parecia ele simples mente meditar um pouco mais sobre o problema, que as faculdades jesuíticas de filosofia e teologia no Centro Sèvres, em Paris, estavam organi zando uma comemoração para o próximo dia 13 de junho, a fim de celebrar o centenário de nascimento de Chardi n? Segundo a infor mação de Clero, eles assim agiam com a bênção de institutos pontificais em Roma e com a aprovação do Secretariado de Estado e do geral dos jes uítas.

A sugestão de Clero era no sentido de que seria melhor que todos os interessados oferecessem missas pela alma de Chardin, em vez de tentarem separar suas ideias ambíguas e de agirem com base em suas teo rias vagas e perigosas. A sugestão de Sua Sant idade foi mais incisiva. O pontífice estava certo de que Stato iria comunicar a padre Arrupe a desa provação, pela Santa Sé, da comemoração planejada.

Como se verificou, Clero tinha uma ou duas outras perguntas. Ha via a questão de um desolador relatório r ecebido no Vaticano há um ano e meio atrás, em outubro de 1979. O venerável irmão cardeal Vincente Scherer de Porto Alegre, Brasil, havia escrito em detalhes sobre o Colé gio Anchieta, jesuítico, naquela cidade. Segundo Scherer, livros didáti cos marxistas eram usados nas salas de aula, princípios marxistas eram inculcados nos estudantes, os Sacramentos da Confissão e da Comunhão eram ridicularizados por serem considerados anacrônicos. O que é que havia acontecido, queria saber o intrigado Clero, àquele relatório? O Colégio jesuítico tinha seguido em frente, todo satisfeito. Por que o geral Arrupe não havia corrigido aqueles graves erros?

E depois, continuou Clero a demonstrar em voz alta sua perplexida de sobre determinados assuntos, havia o estranho caso do padre jesuíta Caprile, que escreveu na revista oficial jesuítica, Civiltà Cattolica, publicada em Roma. Em discussão, para Caprile, estava a proibição católica romana, sob pena de excomunhão, de que um católico pertencesse à maçonaria. A excomunhão era letra morta, escreveu Caprile em seu artigo, e a maçonaria estava aberta a qualquer católico. Aquilo era uma clamo rosa solapa das decisões do papa a respeito de moralidade. Como é que Caprile podia publicar uma coisa daquelas, ainda mais com tal impuni dade e com as bênçãos de seu padre -geral?

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