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39 pudesse ser salva — de que qualquer batalha fosse vencida ou de que fosse

encontrada qualquer solução para o perigoso dilema das nações. A situação só iria se desintegrar, lenta mas inevitavelmente, possivelmente arrasando a civilização tal como os homens a conheceram no último quarto do século XX, e reduzindo a história humana a uma longa e angustiada caminhada sonambúlica até o fim da noite humana.

Wojtyla achou que estava na hora de adotar uma norma de ação completamente diferente daquela que Pio, João, ou Paulo, tinha adotado antes dele. Sua abordagem seria na base da “força muscular”: onde os católicos constituíssem maioria ou, então, u ma minoria de bom tamanho, em sociedade fechadas, deveriam exigir o espaço sócio -político que lhes cabia por direito — reivindicar seus direitos, em outras palavras, sob a alegação de que a sua simples presença como católicos romanos seria suficiente para garantir a defesa daqueles direitos.

Quando cardeal-arcebispo da Cracóvia, na Polônia, Wojtyla já ha via afiado sua sagacidade no planejamento de uma estratégia pela qual tais maiorias e minorias católicas que ele tinha em mente pudessem rei vindicar seus direitos; no entanto, não havia entrado em conflito com o totalitário e inescrupuloso controle militar característico dos governos co munistas.

O método de “força” de João Paulo não afastou a hipótese de diá logo e discurso com os soviéticos e seus represe ntantes. Pelo contrário. Mas seria de um tipo totalmente diferente daquele que João XXIII ou Paulo VI tinha adotado. E de fato, nenhum líder mundial de hoje tem falado aos líderes soviéticos com tanta frequência e de forma tão direta quanto João Paulo II, logo desde o princípio de seu pontificado. Ele re cebeu o prestigiado Andrei Gromyko, da União Soviética, que participa ra de muitos governos, no dia 24 de janeiro de 1979, pouco mais de três meses depois de sua eleição papal. Foi apenas o primeiro de oito encontros pessoais entre este pontífice e Gromyk o entre 1979 e 1985. Suas con versas telefônicas com a Europa Oriental e com a União Soviética são assunto seu; é bastante que se diga que elas acontecem. Se você é um eslavo dos eslavos, se você fala russo além de duas ou três outras línguas europeias orientais, se você é papa, e se você é Karol Wojtyla, os agentes do poder desejam falar com você.

Seria essencial, para a estratégia “de força” de João Paulo II, que ele proporcionasse e impusesse, com sucesso , uma nova liderança mun dial alimentada exclusiva e inquestionavelmente por motivos morais e es pirituais. A fim de ter até mesmo uma esperança de vencer numa estratégia assim tão ousada e tão radical, João Paulo II teria que demonstrar a lide rança que ele estava propondo em suas áreas -chave: sua autoridade su prema quanto a doutrina e moralidade teria que ser defendida e reafirmada dentro de sua Igreja de âmbito mundial; e deveria haver um exemplo con creto do que aquela liderança podia oferecer como sol ução para o dilema internacional.

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suas viagens pelo mundo todo e sua cuidadosa orientação do movimento Solidariedade na Polônia. O aparecimento dessa figura papal em todos os principais países e em muitos outros sem tanta importância seria o meio de restabelecer aquela autoridade. E se o movimento Solidariedade con seguisse a liberdade de ação econômica e cultural sob a égide do comu nismo soviético na Polônia, os comunistas e os capitalist as teriam um exemplo vivo para mostrar que a política doutrinária não precisa resultar em escravidão, pobreza ou um devastador militarismo.

Com a orientação e a ajuda financeira de João Paulo II, o primaz da Polônia, cardeal Stefan Wyszynski, de oitenta an os, estava obtendo progresso no desenvolvimento de uma atitude na organização do Solida riedade através da qual a Igreja e seu povo pudessem escapar, cultural e socialmente, das garras do comunismo. O éthos do Solidariedade foi desenvolvido precisamente pa ra permitir essa liberdade cultural e social, enquanto deixava intato o controle político e militar do marxismo. “Não ameacem os marxistas do Partido Comunista da Polônia, no Parlamento Nacional, no seu exército ou em suas forças de segurança”, era o lema dos fundadores do Solidariedade. “Deixem- nos em paz. Vamos reivindi car liberdade nas outras áreas.”

Ao mesmo tempo, no outro lado do mundo, na área que se estende das fronteiras sul do Texas até à ponta da América do Sul, jesuítas e ou tros estavam executando uma política própria como criadores e princi pais fomentadores de uma nova concepção — que eles chamavam de “Teologia da Libertação”, numa tentativa caracteristicamente eficiente de inspirar um apelo romântico — baseada em princípios revolucionários marxistas e visando instalar um sistema comunista de governo. A contra dição entre o modelo polonês de João Paulo e o modelo de “Libertação” defendido ardorosa e abertamente pelos jesuítas na América Latina não poderia ter sido mais completa ou petulante.

João Paulo II, como João Paulo I antes dele, tinha conhecimento do dossiê sobre os jesuítas compilado na época de Paulo VI. E tinha em seu poder, também, o discurso de reprovação que João Paulo I havia pre parado mas nunca pronunciara. Em novembro de 1978, um mês após sua eleição, o papa enviou o discurso de João Paulo I ao padre-geral Arrupe no Gesù, como é chamada a sede internacional dos jesuítas em Roma.

O papa queria que o gesto tivesse a natureza de um aviso benigno: é co mo se este discurso tivesse sido escrito por mim, dizia o gesto. Em respos ta, como era de se esperar, ele recebeu do geral os devidos protestos de lealdade e obediência. Mas estes iriam revelar -se apenas isso: protestos.

Na noite de 31 de dezembro, como gesto de boa vontade, o papa fo i à igreja jesuítica do Gesù, a fim de honrar a Sociedade com a sua presen ça durante as tradicionais cerimônias religiosas de fim de ano, de dar gra ças a Deus. João Paulo mandou dizer aos jesuítas, de antemão, que não queria ver nenhum deles em trajes ci vis. E não viu. Talvez fosse uma pe quena concessão ao papa, ao qual cada um dos presentes prestara votos importantes e sem igual. Mas foi a única.

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