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193 proporcionado pela maçonaria europeia no contexto do Iluminismo europeu na

década de 1700. Naquela época, os estadistas mais poderosos perten ciam necessariamente à loja maçônica. É certo que os principais consultores junto aos príncipes de Bourbon eram membros ardorosos da loja maçônica. O marquês de Pombal, consultor real de Portugal; o conde de Aranda, ocupando o mesmo cargo na Espanha; o ministro de Tillot e o duque de Choiseul, na França; o príncipe von Kaunitz e Gerard von Swieten na corte de Habsburg de Maria Teresa da Áustria. São nomes que já não significam coisa alguma para nós, os modernos, mas constavam e ainda constam das listas de membros maçônicos em lugar de honra. Cada um daqueles homens ocupava um cargo de confiança no governo, e cada qual desejava declaradamente a morte da Sociedade. Eles viam nos jesuítas “os inimigos jurados da maçonaria”, os “mais argutos inimigos da tolerância” e “os piores corruptores da liberdade”. O ódio aos jesuí tas era intenso e, quanto às palavras, nobre: “Reconheço os esforços que eles os jesuítas fizeram”, escreveu Choiseul a José da Áustria, “para es palhar a escuridão pela superfície da Terra e para dominar e confundir a Europa, do cabo Finisterra ao Mar do Norte.”

O maior tom patético naqueles últimos anos da Sociedade pré -Supressão é dado pelos próprios jesuítas: segundo cartas e documentos da época, vê -se claramente que eles sabiam quem se empenhava em eliminá -los.

Não há dúvida de que o papado via na maçonaria europeia um inimigo mortal, e por uma razão muito boa. Em 1735, se não antes, as principais lojas maçônicas europeias eram inimigos jurados da jurisdição papal centralizada e dos ensinamentos dogmáticos católicos romanos. Os obje tivos gerais da maçonaria como tal, a partir do segundo terço do século XVIII, eram fundados em várias premissas inaceitáveis para o catolicismo: Jesus não era Deus; não havia céu ou inferno; não havia Trindade de Pessoas divinas — só o Grande Arquiteto do Cosmo, ele mesmo fazendo parte daquele cosmo; os seres humanos eram aperfeiçoáveis durante suas vidas nesta Terra. O que arruinava a cultura humana e pervertia a civilização era a alegada autoridade da Igreja Romana.

Essa transformação da maçonaria de associação originalmente de crentes cristãos num corpo de homens resolutamente opostos à antiga fé da Eur opa foi efetuada, principalmente, pela nova onda de descobertas científicas. Naquele “Século das Luzes”, os homens chegaram à conclusão de que a inteligência humana era infalível, que a revelação já não era necessária, e que só as desinibidas investigações e pesquisas humanas eram necessárias à felicidade humana.

Toda uma galáxia de brilhantes pensadores e hábeis escritores surgiu defendendo essa nova atitude — La Mettrie, Diderot, d’Alambert, Montesquieu, Helvécio, Ia Chalotais, Voltaire, Barão d’Holbach. O Iluminismo invadia, agora, os salões das pessoas de destaque na sociedade, as reuniões reais, as reuniões de chefes de partidos políticos, e assembleias de universidades. A Igreja Romana, o papa romano e a Sociedade de Jesus

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foram estigmatizados desde o início como os três grandes obstáculos ao precioso Iluminismo.

Por essa razão, Clemente XII (1730-40) condenou a maçonaria como incompatível com o catolicismo e penalizou com a excomunhão to dos os católicos que entrassem para as lojas maçônicas. Essa condenação tem sido mantida repetidas vezes por Roma mesmo até princípios da pri mavera de 1984. Seria ridículo alguém negar que o zelo maçônico daque les em íntimo contato com os príncipes de Bourbon na qualidade de consultores não visava incapacitar o papado ao acabar com a sua arma mais potente, a Sociedade de Jesus.

A razão ideológica, portanto, para se livrar dos jesuítas estava pre sente. Não há necessidade de supor que uma trama formal foi maquina da e que conspiradores juraram sigilosamente acabar c om a Sociedade de Jesus. Todos aqueles líderes do Iluminismo eram membros da loja maçônica, bem como membros destacados da classe dominante em seus cír culos políticos, financeiros, literários e sociais. Quer se reunissem na loja de Paris, chamada de “Nas Nove Irmãs”, na loja de Madri chamada “Espadas Cruzadas”, quer em jantares oficiais ou reuniões financeiras, todos pensavam da mesma maneira, como “Irmãos da Pirâmide”. O irmão Pombal, o irmão Choiseul, o irmão Kaunitz enviavam mensagens uns aos outros e aos demais irmãos sobre a necessidade de atacar o papado através dos jesuítas.

Os jesuítas estavam demasiado cientes do que estava acontecendo para não sentirem o cheiro de sua morte que se aproximava nos fortes ventos que já tinham começado a soprar contra o seu Instituto. Que os jesuítas daquela época estavam cônscios do perigo mortal que tinham pela frente está claro na declaração oficial de seus líderes, feita quando eles se reuni ram em Roma entre 9 de maio e 18 de junho de 1758: “Se, com a permissão de Deus devido a Seus desígnios secretos que só nos cabe adorar, viermos a nos tornar o alvo da adversidade, o Senhor não irá abandonar aqueles que permanecerem ligados e unidos a Ele; e enquanto a Sociedade puder ir para Ele de alma aberta e com sinceridade no coração, para ela não será necessário nenhuma outra fonte de força.”

Pode-se ouvir, por entre essas palavras, a voz da velha Sociedade de Jesus repetindo os temas básicos do jesuitismo: submissão e obediência; aceitação da condenação e da desgraça ; relacionamento pessoal entre a Sociedade e Deus.

Pombal começou, em Portugal, o rolo da destruição. Entre 1759 e 1761, todos os jesuítas que estavam em Portugal e seus domínios de além - mar foram presos, transportados por navios da marinha real, e deposi tados nas costas dos estados papais da Itália. Todas as propriedades dos jesuítas — casas, igrejas, colégios — foram confiscadas.

Agora era a vez da França. Grave erro de julgamento tático por par te dos jesuítas deu a seus inimigos vigilantes de lá a cha nce que estavam procurando — cuidar do caso LaValette.

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