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123 Os franciscanos e Vaughn passaram, então, a embelezar sua respos ta

exatamente como os jesuítas tinham feito, praticando a mesma escamoteação teológica. Adotavam tranquilamente a Teologia da Libertação, com toda a sua “opção preferencial pelos pobres”, sua postura de “anti- consumismo” pela qual se indicava o anticapitalismo, e sua escolha de uma estrutura “não - hierárquica” de igreja, tudo isso disfarçado em lin guagem ótima e otimista sobre “a Conferência Africana”.3

O truque máximo, realizado co m a ajuda de uma imperturbável versão eclesiástica de desinformação, foi declarar que aquela “identidade” franciscana — que jamais passara pela mente dos franciscanos desde que foram forma dos no século XIV — sempre fora deles, “o fruto de séculos de história, doutrina, tradições e compromisso para com o mundo”.

Em carta oficial dirigida ao papa, Vaughn e o ministro -geral que saía, Onorio Pontoglio, brindaram Sua Santidade com o mesmo uso liberal de frases consagradas que tinham sido aperfeiçoadas pelos jes uítas nos últimos vinte anos: “(...) fidelidade aos tradicionais valores da Ordem de fra ternidade e pobreza evangélica (...) um desejo unânime de (...) absoluta fidelidade ao Evangelho, que constitui a nossa identidade e a razão da existência da família franciscana.”

Mais tarde, no verão de 1985, os líderes franciscanos receberam um manual de serviço preparado pelo Departamento de Justiça e Paz da Or dem. “A atitude da Igreja para com o marxismo mudou de simples con denação para um diálogo crítico. (...) Os cristãos, com perfeita consciência dos riscos, passaram a entender que existem diferenças dentro do marxis mo. (...) Muitos deles [cristãos] estavam, há muito tempo, insatisfeitos com os males do capitalismo.”

João Paulo II não tinha, agora, como respon der. Estava colhendo o rodamoinho de sua inatividade na questão da reforma dos jesuítas. O sabor inato não-católico e protestantizado daquele sentimento — “fidelidade ao Evangelho, que constitui a nossa identidade e a razão da existên cia da família franciscana” — rejeitando, como fazia pelo menos impli citamente, qualquer aceitação dos ensinamentos e da autoridade da Igre ja, pôde gozar de sua liberdade sem ser perturbado. Não houve rejeição da carta de Vaughn ou dos sentimentos da Assembleia. Não houve afirmação alguma de que a Santa Sé, e apenas a Santa Sé, era a razão e a causa da existência e da identidade franciscana, como era de toda ordem religiosa católica.

Talvez houvesse, entre os que apoiavam João Paulo, uma leve espe rança de que o fato de ele ter forçado a mão dos jesuítas no caso de Fer nando Cardenal, apesar de tardio, pudesse provocar uma espécie de “aceiro” que acabasse por deter o incêndio da religião secularizada. Até esta data, não há sinais de que qualquer esperança desse tipo fosse ju stificada.

A informação que agora chega até ao geral Kolvenbach pelo malote diplomático e por informações da boca de jesuítas que visitam a Nicará gua faria com que qualquer homem fizesse uma pausa. Talvez ela o faça

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refletir sobre a atitude oficial dos jesuítas para com o “padre Fernando”. Porque Cardenal e os outros padres políticos ficaram na hierarquia do terror, a

nomenclatura sandinista, gozando de todas as mordomias do poder e do

privilégio de uma elite marxista. Moram em casas desapro priadas da classe média que tinha sido deposta, em confortáveis subúr bios de Manágua como Las Collinas. Fazem compras em lojas especial mente designadas que só recebem em moeda forte e dólares, nas quais não há nenhuma “opção preferencial pelos pobres”. Jantam em restaurantes de luxo restritos a autoridades do Partido, e almoçam em seus gabinetes do governo, comendo as rações diárias, entregues por furgões oficiais, de presunto, lagosta e outros acepipes que não são encontrados em nenhum outro lugar da Nicarágua sand inista. Descansam em camarotes reservados no estádio de beisebol, recebem fornecimento ilimita do de gasolina e água, que são racionados para o povo, e passam férias nas mansões da dinastia Somoza, devidamente rebatizadas pelos sandi nistas de “casas protocolares”. Viajam pela sua Nicarágua com guar da-costas pessoais cubanos e alemães orientais que andam armados com automáticas soviéticas, ostensivamente para serem apontadas para assal tantes em potencial mas, é de se presumir, igualmente eficientes contr a um padre ativista que possa vacilar em seu entusiasmo pela política do tipo sandinista.

Com tais incentivos para alimentar o seu ardor “teológico”, Fernando Cardenal e seus irmãos sacerdotes excursionam por outros países lati no- americanos organizando a revolução, e voam a jato, à custa dos so viéticos, em missões diplomáticas nos Estados Unidos, no Oriente Médio e na Europa.

Essas missões praticamente não são menos eficientes agora, do que eram antes de os padres políticos serem afastados de suas ordens e de seus cargos diocesanos. O presidente da Conferência Nacional de Bispos Ca tólicos dos Estados Unidos, bispo James Malone, de Youngstown, Ohio, enviou palavras calorosas ao padre Miguel D’Escoto, que pertencera à Ordem Maryknoll e ainda é o ministro do Exterior sandinista: “Sua folha de ministro distinto e dedicado é fonte de enorme orgulho para nós, bispos, hoje. Espero que saiba (...) que os bispos dos Estados Unidos ofe recem apoio maciço ao seu trabalho.” Documentos diplomáticos do Vaticano continu am a registrar, todos os dias, que, em Washington, as organizações fomentadas com tanto cui dado pelos sandinistas ao longo dos anos ainda continuam sendo fomen tadas. WOLA, NACLA, IPS, TNI, USLA, COHA, todas continuam bombardeando os legisladores para que recusem a ajuda militar aos Contras, os novos guerrilheiros da Nicarágua, que somam cerca de 4.000 ho mens, que preparam seus explosivos, treinam seus quadros e planejam suas operações contra um governo repressivo, tal como certa vez os san dinistas fizeram.

Los Muchachos, é como os Contras são chamados pelos homens e mulheres

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